O FUTEBOL BRASILEIRO EM
BAIXA – PARTE III
Nos
dois últimos artigos, analisamos alguns dos fatores que estão levando o futebol
brasileiro a um baixo nível de consumo interno e a um inacreditável descrédito
internacional.
No
geral, faltou um componente a ser analisado e que diz respeito diretamente aos
organizadores do futebol no Brasil, que vão desde a CBF, as Federações
Estaduais, os clubes e até a emissora que banca a maior parte do dinheiro dos
clubes.
Este
componente esbarra em duas perguntas simples, mas apropriadas.
Por
que os jogos dos certames da segunda e terceira divisões da Inglaterra e da
Alemanha levam mais torcedores aos estádios do que a grande maioria das
partidas da nossa Série A? Será que o povo brasileiro ainda gosta de futebol?
A
primeira pergunta é mais fácil de ser respondida: o público inglês e alemão é
maior porque lá os torneios são mais bem organizados, a maior parte dos
ingressos é vendida com antecedência por um preço pré-fixado e quem quiser ir
ao estádio comprando seu ingresso na hora pagará um preço justo para o
espetáculo. A violência foi também praticamente banida e as distâncias entre as
cidades são mais curtas.
Além
disso, as condições que os estádios oferecem no que diz respeito à segurança do
torcedor, à sua proximidade com terminais de transporte urbano e à ausência de
oportunistas que incomodam se oferecendo para cuidar do seu veículo e de cambistas
querendo lhe empurrar alguns ingressos – muitas vezes falsificados! – são uma
motivação para quem quer passar uma tarde de lazer assistindo ao vivo a uma
partida de futebol.
A
segunda pergunta ainda precisa ser respondida.
Por
mais que o torcedor brasileiro aprecie um bom jogo de futebol, ele encontra
alguns obstáculos que pouco a pouco fazem com que ele se afaste dos estádios.
O
primeiro obstáculo é exatamente a carência de um bom espetáculo pela ausência
atual de um futebol vistoso e produtivo. Salvo honrosas exceções, os jogos que temos
visto ultimamente são terrivelmente ruins.
Os
jogadores, de um modo geral, se especializaram em dar chutões, errar passes e
fazer jogadas bisonhas, e os nossos técnicos abusam de um esquema de defensivo,
feio e travado, tentando a sorte nos contra-ataques ou num erro do adversário.
Com isso, há um grande nivelamento entre as equipes que deveriam ser grandes e
as equipes medíocres.
Para
piorar, o horário dos jogos espanta o torcedor, pois partidas são disputadas
tarde da noite em estádios mal localizados, inibindo a presença de público pelo
problema de transporte e principalmente pela violência urbana e pela
insegurança angustiosa a que o torcedor está exposto.
Na
verdade, o torcedor está sujeito a dois tipos de violência, a oficializada, que
grassa pelas cidades na forma de assaltos, sequestros-relâmpago e latrocínios,
e a oportunista – torcedores que espancam torcedores adversários com paus,
pedras, rojões, pedaços de ferro, soco inglês, e todo o arsenal que você possa
imaginar, normalmente patrocinados pelas torcidas organizadas que por sua vez
são patrocinadas polos próprios clubes.
Finalmente,
por causa da inexistência de uma política de preços, os clubes majoram os
ingressos a níveis insuportáveis. Ir ao campo de futebol nos dias de hoje se
tornou um divertimento muito caro, pois incluindo o ingresso e as despesas
periféricas, como estacionamento, gorjetas, e uma ou duas cervejas, o torcedor
não gastará menos de 150 reais, o que limita a sua presença nos estádios a no
máximo uma vez por mês. Se ele levar o filho ou mais alguém da família a
despesa multiplica.
Pode
ser que o brasileiro continue gostando de futebol, mas os donos do espetáculo
estão tornando o seu prazer cada vez mais impossível.
Sorte
das emissoras de TV por assinatura e seus pacotes “pay-per-view” que oferecem
transmissões repletas de câmeras e recursos, fazendo com que o futebol dos
estádios passe a ser um lazer do passado.
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