A LUSINHA ESTÁ NA PIOR
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES”
DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 03/11/2014)
A
Série B já teve a sua primeira baixa: a Portuguesa. Três outros clubes vão
seguir o mesmo caminho até o dia 29 de novembro, mas o caso da Lusa é o mais
emblemático.
Vítima
de uma série de circunstâncias que começaram com a sua discutida e discutível
queda para a Série B no ano passado, a Lusa caiu com cinco rodadas de
antecedência e vai disputar a Série C em 2015.
Com
a queda para a Série B em 2014, o clube perdeu receita, o time perdeu jogadores
e o grupo perdeu a motivação. Além do mais, brigas e acusações internas, que
incluíram a possível omissão do seu departamento jurídico ao ter propositalmente
colaborado com o rebaixamento no ano passado, dividiram o clube e enfraqueceram
a sua administração.
Sem
verba para pagar salários – em alguns casos atrasados em até cinco meses –
enfrentando protestos dos jogadores por melhores condições de trabalho e a ira
da torcida clamando por resultados, o time foi se esfacelando aos poucos e sua
queda para a terceira divisão do futebol brasileiro não chega a se constituir
nenhuma surpresa.
Sua
recuperação em nível nacional é duvidosa, e faz lembrar a saga do América
carioca, atualmente apenas um nome a ser lembrado. Embora seja simpático a uma
maioria de torcedores de outros clubes, a Portuguesa não tem uma grande torcida
que possa garantir grandes receitas, sejam elas provenientes de arrecadação, de
sócios-torcedores ou de patrocinadores fortes.
Numa
época de futebol profissional e de alta competitividade, seus dirigentes, mesmo
aqueles mais diligentes – com perdão do trocadilho – não terão como se cotizar
para colocar a casa em ordem. Seu estádio, antigo e ultrapassado, não terá como
competir com as novas arenas do Palmeiras e do Corinthians nem com o Morumbi
constantemente renovado para arrecadar com shows e eventos.
E
assim, a Lusa vai tristemente descendo a ladeira sem ver uma alternativa viável
de se firmar na elite do futebol brasileiro.
A
Associação Portuguesa de Desportos sempre tentou ser grande, ou pelo menos
brigar de igual para igual com os grandes de São Paulo, mas na sua longa trajetória
de 94 anos o máximo que conseguiu foram três Campeonatos Paulistas (1935, 1936
e 1973, ano em que teve que dividir o título com o Santos), dois Torneios
Rio-São Paulo (1952 e 1955) no melhor período da sua história, um Campeonato
Brasileiro da Série B (2011) e dois Campeonatos Paulistas Serie A2,
correspondente à segunda divisão, (em 2007 e 2013), isto é, quase nada se
comparado com Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo.
A
maior glória da Lusa não aconteceu no Brasil, e sim nos gramados do exterior.
Nos
anos de 1951, 1952 e 1954, o time disputou 42 partidas na Alemanha, Bélgica,
Colômbia, Equador, Espanha, França, Inglaterra, Peru, Suécia e Turquia,
conquistando 33 vitórias, 8 empates e colecionando apenas uma derrota, com 111
gols marcados e 42 sofridos, sendo por isso três vezes agraciada com a “Fita
Azul”.
A
Fita Azul era uma comenda ou medalha de Honra ao Mérito instituída pela CBD após
a Copa do Mundo de 1950 para as equipes brasileiras que conseguissem uma série
de vitórias contra equipes estrangeiras, em excursões que durassem algumas
semanas.
Terminado
o impacto da Copa, a CBD desistiu da ideia, que foi encampada pelo jornal A
Gazeta Esportiva, e a Fita Azul teve na época a mesma importância que têm os
Mundiais Interclubes de hoje em dia.
Ao
torcedor, de luto, só resta voltar ao passado e lembrar com saudade os muitos
craques de renome nacional que foram forjados na Lusa ou passaram por ela, como
é o caso de Djalma Santos, Brandãozinho, Julinho Botelho, Pinga, Leivinha,
Marinho Peres, Enéas, Dener, Ipojucan, Roberto Dinamite e Zé Roberto, seu
último ídolo.
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