FUTEBOL – NEGÓCIO OU
ESPETÁCULO? (PARTE II)
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 08/12/2014)
Talvez
o título deste artigo (e também do artigo anterior) devesse ter sido “Futebol –
Negócio e Espetáculo”, porque na verdade
nos dias de hoje uma coisa não se dissocia da outra. Grandes marcas apostam em
grandes espetáculos.
No
caso do futebol brasileiro, no entanto, o título talvez pudesse ser “Maus
negócios e Espetáculos sofríveis”.
O
gerenciamento dos clubes não tem um selo de qualidade, pois os custos aumentam,
as dívidas se acumulam e, entra ano, sai ano, a torneira continua aberta sem previsão
de que o equilíbrio possa ser restabelecido.
Por
outro lado, os jogadores que não recebem salários, direitos de imagem e premiações
continuam rendendo 50% do que podem a proporcionam na maioria das vezes espetáculos
medíocres.
Os
ingredientes que os clubes têm a disposição parecem apropriados para que a
receita original funcione e o negócio seja bem sucedido. Estes ingredientes poderiam
proporcionar grandes espetáculos, mas por algum motivo a massa desanda,
provavelmente devido à falta de um padeiro adequado.
A
presença da mídia, a participação de patrocinadores de peso e todo o marketing
esportivo que é desenvolvido em torno do negócio promovem e provocam a dança de
bilhões de reais para alimentar o mercado do futebol.
Qualquer
empreendimento milionário, porém, corre o risco de fazer água se não tiver um
gerenciamento à altura do capital investido, isto é, o futebol profissional no
estágio em que se encontra não pode ser dirigido como um campeonato de bairro.
Os
altos e baixos se sucedem, mas os sucessos dão a impressão de que aconteceram
por obra do acaso, sem o menor planejamento, ao passo que os fracassos mostram
claramente a existência de erros estratégicos.
O
maior problema é que os clubes não funcionam como empresa, e via de regra
gastam muito mais do que ganham ou gastam o dinheiro que ainda não ganharam.
Os
presidentes dos clubes de futebol são na sua maioria empresários que aparentemente
sabem como tocar as suas empresas sem as colocar no negativo, mas não mostram o
mesmo carinho pelos clubes que dirigem, uma absoluta irresponsabilidade. Será
que as suas empresas contratam seus empregados – por excelentes que sejam – pagando
salários que fazem com que a folha de pagamento supere o faturamento?
É
meio difícil o futebol se organizar financeiramente num país onde a sociedade
está pendurada em dívidas, as empresas estão meio quebradas e o próprio governo
gastou além do seu orçamento, isto é, o mau exemplo vem de todos os lados. E
olhem que eu não estou falando sobre a corrupção generalizada, fato que – com
exceção à nebulosa história do rebaixamento da Portuguesa – não tem produzido
no futebol escândalos de porte.
O
Brasil está no vermelho e os zeros estão à esquerda – sem qualquer alusão a alguma
coloração partidária.
Chegamos
ao ponto de ter a esperança de que uma figura tão questionada como o presidente
do Vasco Eurico Miranda possa ajudar o futebol a se tornar lucrativo e organizado.
Até
a poderosa e bem dirigida Globo Esportes entrou na dança e quase se complicou
por causa dos adiantamentos que fez, sendo inclusive acionada pela Justiça no
caso do Botafogo como corresponsável por parte do débito do Glorioso, que vai
de mala e cuia para a Série B acumulando um passivo de 750 milhões, sem incluir
os salários atrasados de toda uma galera.
O
futebol brasileiro passa pela necessidade de se estabelecer um teto salarial
para jogadores e técnicos, pela responsabilidade fiscal e trabalhista dos
clubes, pela ampliação do sistema sócio-torcedor, pela venda antecipada de
ingressos através de carnês, por um calendário que privilegie os clubes das
quatro divisões, pela profissionalização da arbitragem e pela redução da cota
de avareza da CBF.
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