terça-feira, 3 de fevereiro de 2015







IDIOTAS NO COMANDO  

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 03/02/2015) 

Existe um preceito jornalístico que limita o tempo de pergunta e a objetividade da resposta nos programas de entrevistas, tudo pautado na boa educação e no respeito que ambos – entrevistador e entrevistado – devem ter entre si e com o espectador. Esta regra vale para qualquer que seja o assunto em questão, seja ele de natureza científica, política, econômica ou educacional, seja ele sobre o nosso brejeiro futebol.
Interrupções no discurso são indesejáveis, como é indesejável impedir que a outra parte desenvolva o seu raciocínio quando tenta fazer com que a conversa fique mais clara para o público espectador.
Ao longo do tempo, porém, nos acostumamos a ver nas entrevistas esportivas muitos dirigentes e técnicos desequilibrados dando declarações arrogantes e muitas vezes ofensivas e não admitindo qualquer tipo de diálogo. São os “donos da verdade”.
Já nos habituamos a ver e ouvir as fanfarronices do chefão Eurico Miranda e a ironia do professor Vanderlei Luxemburgo, a insolência de Dunga, a má educação de Andrés Sanchez e soberba de Ricardo Teixeira. Também já estamos cansados das respostas mal-humoradas de Muricy Ramalho e Émerson Leão.
A maioria das entrevistas, no entanto, termina de uma maneira tranquila, com pedidos de desculpas explícitos ou embutidos.
Não foi o que aconteceu na semana passada, quando tivemos a oportunidade de assistir ao suprassumo da estupidez em que se transformou a entrevista de Mario Gobbi, atual presidente do Corinthians – que está de saída, para a felicidade do torcedor corintiano – no programa Bate Bola da hora do almoço na ESPN Brasil.
Ao invés de responder aos comentaristas com clareza e objetividade, o presidente esbravejou durante meia-hora sem dar espaço aos interlocutores, tendo o cuidado de afirmar que os jornalistas não estavam preparados para lhe fazer perguntas e se colocou num pedestal que, ao invés de traduzir conhecimento, demonstrou apenas falta de educação e ignorância.
Tudo começou quando o comentarista pediu que ele desse a sua versão para o fato de a torcida organizada do clube ter contratado o rapaz que lançou o sinalizador na Bolívia, causando a morte do menino Kevin Espada.
Mario Gobbi se enfureceu e disse não haver provas de que ele teria lançado o artefato e que “a prisão dos dez integrantes da Gaviões da Fiel em Oruro tinha sido um crime muito mais grave do que a morte do jovem boliviano”!
E então deitou falação sobre os procedimentos da lei boliviana, numa clara ingerência na soberania jurídica de um outro país, ao mesmo tempo em que dizia para os comentaristas boquiabertos que eles deveriam aprender sobre leis antes de interpelá-lo.
O show de grosseria e desvairamento terminou com a chamada dos comerciais.
Este é o perfil de muitos dirigentes do futebol brasileiro, que são despreparados para exercer a liturgia do cargo. O seu destempero muitas vezes açoda a desarmonia e estimula a violência.
A lista dos idiotas que estão no comando não é pequena, e neste exato instante ela tem entre os seus principais representantes o atual presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, que em pouquíssimo tempo só colecionou desafetos pela forma grosseira como conduz as discussões tanto interna quanto externamente, mas que diferentemente do presidente corintiano ainda está no início do mandato.
Já Mario Gobbi, que vai entregar o cargo neste mês de fevereiro, é o tipo de dirigente que nada acrescentou ao Corinthians nem ao futebol, e com certeza não vai deixar saudades.

 

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