A GRIFE EM CRISE
A demissão de Vanderlei
Luxemburgo na última segunda-feira eleva para cinco o número de treinadores
notáveis desempregados atualmente no Brasil: fazendo companhia a Luxemburgo
estão Muricy Ramalho, Luiz Felipe Scolari, Abel Braga e Mano Menezes.
E a quantidade ainda
aumenta se a gente incluir nesta lista outros que talvez não sejam tão notáveis,
mas que se habituaram a chefiar comissões técnicas de muito clube grande, como
Joel Santana, Ney Franco, Adilson Batista, Celso Roth, Dorival Junior e até
Alexandre Gallo, que deixou o comando técnico das seleções brasileiras de base
ainda este mês e Carlos Alberto Parreira, que se declarou aposentado.
Em apenas três rodadas o
Campeonato Brasileiro da Série A já soma três demissões, com Ricardo Drubsky se
alinhando ao lado de Scolari e Luxemburgo. E os dois Oliveiras – Oswaldo e
Marcelo – já estão no bico do corvo, provavelmente dependendo do resultado da
rodada de domingo.
Na Série B a coisa é ainda
pior: em seis rodadas, oito técnicos já foram dispensados.
Isto leva a algumas reflexões.
A lógica poderia indicar
que a dispensa destes figurões teria sido forçada pela atual conjuntura econômica
por que passa o futebol brasileiro, que a exemplo de diversos outros setores
carece de uma criteriosa análise de custo x benefício para poder sobreviver.
Poderia também indicar um novo direcionamento dos dirigentes em busca de uma
renovação, tendo como objetivo modificar as características do futebol no
Brasil para voltar em poucos anos a competir internacionalmente com o brilho
que sempre nos foi tradicional. Poderia também ser fruto de campanhas medíocres
que teriam levado a direção dos clubes e os torcedores à mais completa
exasperação, causando uma reformulação forçada como se partindo do zero.
Ou uma soma dos três
fatores.
Considerando os parâmetros
analisados, porém, esta não é toda a verdade.
A questão financeira cai
por terra quando vemos que os clubes continuam pagando salários milionários por técnicos e jogadores
às vezes não mais do que medianos, ou comprometendo a receita com negociações
precipitadas. A renovação fica em dúvida quando vemos pouco interesse ou total desinteresse
no investimento em técnicos e jogadores da base. Quanto às campanhas medíocres,
percebe-se um planejamento inadequado, sem o qual não pode existir uma cobrança
séria, pois não é dado tempo a muitos treinadores para que ele estabeleça um
sistema de jogo, ganhe a confiança e o respeito do elenco e galgue posições no
ranking.
O principal motivo pela
queda de tantos profissionais parece ser o despreparo e o amadorismo dos
dirigentes das agremiações.
Eles contratam errado,
pagando fortunas – o que se traduz no atraso do pagamento de salários – dão palpite
no trabalho do elenco e criam despesas às vezes evitáveis, como o interminável pagamento
de multas rescisórias.
Ao analisar as demissões
deste campeonato, constatamos que Scolari foi contratado numa época errada onde
a sua competência era fortemente questionada e ele estava claramente
fragilizado pela ressaca da Copa do Mundo. No que diz respeito a Luxemburgo,
que substituiu intempestivamente Jayme de Almeida e não conseguiu dar padrão ao
time, talvez o procedimento correto tivesse sido a sua dispensa ao final do
Campeonato Carioca.
Quanto a Drubsky, quem o
contratou cometeu um sério erro de avaliação. Definitivamente não era o momento
de um técnico com a sua história pequena assumir um clube com os problemas que
o Fluminense estava tendo, com o elenco rachado e com o patrocínio em cheque.
Comparando com o futebol
europeu, o Real Madrid acabou com a era Ancelotti, mas para isso esperou o
final da temporada, a fim de que o seu sucessor tenha tempo de trabalhar, e o
Bayern Munich continua apostando as fichas em Pepe Guardiola mesmo com os
últimos insucessos. Isto é um sinal que a estabilidade técnica de um time
também se consegue quando a diretoria pensa com a cabeça, não com o instinto de
torcedor.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 29/05/2015)
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