A FÁBRICA DE DINHEIRO
A corrupção no futebol
ataca como uma doença insidiosa e maligna, e seus efeitos se fazem sentir nos
mais variados setores. Ela afeta as finanças dos clubes, o futuro de muitos
jogadores, a lisura da competição e os resultados obtidos, que podem ser o
efeito de combinações ligadas à máfia da loteria.
No caso das denuncias
sobre a CBF e das recentes investigações levadas a cabo devido ao escândalo da
Fifa, ficamos todos com o pé atrás sem saber se o que estamos vendo é realidade
ou ficção, isto é, se a convocação dos jogadores da seleção brasileira e a escalação
da equipe obedecem a uma lógica cartesiana ou se são forçadas por empresários com
o intuito de valorizar a sua mercadoria.
É claro que a empresa que
detém o poder de definir os locais e as datas dos amistosos da seleção
brasileira tem também muito poder em outros aspectos, como por exemplo o de
definir o preço dos ingressos.
Afinal, na contabilidade dos
jogos,considerando-se de um lado os gastos com o evento e as propinas pagas a
terceiros e do outro lado o resultado financeiro da empreitada, entende-se que
deva haver expectativa de lucro.
O amistoso morno entre Brasil
e México do último domingo em certos momentos mais parecia um casados x
solteiros sem compromisso, chegando a irritar alguns comentaristas e não
empolgar os narradores, mas quem estava no estádio se divertiu muito.
Famílias inteiras da
classe média alta paulistana participaram da festa, todos com enormes sorrisos
nos lábios, principalmente quando eram flagrados pelos telões do estádio, e em
determinado momento deixaram o futebol de lado para se concentrarem nas
entusiasmadas “olas”, fenômeno que acontece apenas em exibições da seleção (aposto
que ninguém jamais viu “ola” alguma num Fla-Flu ou num Derby paulista).
Para quem infelizmente já se
acostumou com as torcidas repletas de baderneiros é até gratificante a presença
de gente ordeira, alegre e descontraída torcendo (ou não) pelos jogadores e arrancando
gritinhos e “uuuuus” empolgantes quando aquele jogador que eles nem sabem quem
é chuta uma bola em direção ao gol adversário, mesmo quando essa bola vai para
as alturas.
Mas o verdadeiro torcedor,
aquele que vai ao estádio chova ou faça sol, aquele que acompanha o futebol, tem
pelo menos dois motivos para não ir ao estádio em dia de amistosos da seleção,
principalmente quando enfrentamos um time suplente do México – que já é um tradicional
freguês – ou Honduras.
Motivo um: Há tempos que a
seleção brasileira não seduz ninguém. A única estrela capaz de gerar emoção é o
craque Neymar. A maioria dos outros jogadores não seria sequer reconhecida caso
alguém topasse com eles num aeroporto ou num supermercado.
Motivo dois: O público
presente à Allianz Arena para o jogo Brasil x México foi de 34.659 pagantes
para uma arrecadação de R$ 6.737.030,00, o que nos dá o valor médio do ingresso
de R$ 194,30 por torcedor, aí incluso as inúmeras crianças presentes.
Isto significa que um pai
de família que compareceu à festa futebolística com a mulher e dois filhos
gastou um salário mínimo para ver o jogo, sem contar as despesas com o
estacionamento, com as guloseimas e provavelmente com a pizza depois do jogo
porque, afinal de contas, era dia de domingo.
A comissão técnica do
Brasil vai dizer com plena razão que estes amistosos são necessários, porque
visam preparar e entrosar o time para a Copa América que começou ontem no
Chile. E que a seleção terá a missão de resgatar o seu futebol, relegado a um
plano menor depois de uma Copa do Mundo cheia de expectativas e vazia de bons
resultados.
O que não se entende, no
entanto, é a glamorização excessiva dos jogos da seleção, tendo como
público-alvo gente que assiste futebol como espetáculo e não como competição, o
que colabora com o afastamento do torcedor comum, aumenta o distanciamento da
seleção com o público e serve como pretexto para a mercantilização do esporte,
com visíveis efeitos negativos com respeito à ética e aos bons princípios.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 12/06/2015)
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