sábado, 26 de setembro de 2015







COMEÇAR DE NOVO 

A seleção brasileira foi novamente convocada, desta vez para começar a luta pela classificação para a Copa do Mundo de 2018, a ser disputada na Rússia.
As Eliminatórias sul-americanas terão a participação de dez países, sendo que os quatro primeiros estarão classificados automaticamente e o quinto colocado ainda terá uma chance de disputar uma repescagem contra um representante do continente asiático.
Cada seleção disputará nove jogos em casa e nove no campo dos adversários, o que torna aparentemente mais confortável a trajetória do Brasil e da Argentina, times muito difíceis de ser vencidos quando atuam nos seus próprios domínios.
No entanto, dada a atual turbulência por que passa o futebol brasileiro, todo cuidado é pouco.
Depois de ficar em quarto lugar na Copa 2014 disputada em casa, o Brasil tem a oportunidade e a obrigação de se redimir diante da sua torcida e diante do mundo, que perdeu a confiança na tão decantada qualidade do “melhor futebol do mundo”.
A lista de Dunga não apresenta grandes novidades depois dos amistosos contra Costa Rica e Estados Unidos, e nem poderia ser diferente.
Na verdade, com a impossibilidade de contar com Neymar e Daniel Alves, mais alguns lesionados menos importantes, Dunga não está buscando uma formação com novos nomes, está simplesmente contando com o que existe no mercado, mesmo tentando dar uma cara renovada à seleção.
A safra não é muito encorajadora, pois dos vinte e três nomes da lista temos no máximo seis jogadores que poderiam ser realmente considerados numa convocação séria, se não como titulares absolutos, pelo menos para compor o grupo.
Mas o grande problema da seleção não são exatamente os jogadores.
O grande problema é que o mundo evoluiu e a gente continua jogando o mesmo futebol de vinte anos atrás.
O leitor dirá que neste interregno nós ganhamos uma Copa – 2002 – mas então nós tínhamos jogadores melhores que esses que estão aí, e tivemos nosso trajeto facilitado por enfrentarmos seleções sem expressão, além de uma ajudazinha aqui e ali da arbitragem contra a Bélgica e contra a Turquia.
Vencemos a Alemanha na final, é certo, mas o nosso esquema de jogo já se mostrava em declínio.
Se o leitor analisar bem, verá que a coisa não mudou muito em termos de ordem tática: naquele tempo havia a chamada “ligação direta” com chutões da defesa para a correria de Ronaldo, que fazia valer a sua técnica e o seu vigor para, com a ajuda de Rivaldo, criar o pânico na defesa adversária. Hoje o chutão vai em direção de Neymar.
Como Neymar não joga as duas primeiras partidas, a eficiência desta jogada fica um tanto comprometida.
O futebol hoje em dia pode ser resolvido até sem a necessidade de um craque; basta que os jogadores tenham um nível razoável, assimilem a noção de conjunto, ocupem todos os espaços e se movimentem constantemente. E tenham um bom preparo físico para correr 120 minutos se necessário.
O grande problema para estes jogadores, no entanto, é a deficiência nos fundamentos: os atacantes se atrapalham na hora do gol e os defensores se confundem no posicionamento, deixando vazios para que um avante esperto chegue para definir.
Os técnicos estrangeiros estão alguns anos à frente dos técnicos brasileiros – e a gente pode sentir isto claramente apenas observando qualquer partida de uma liga europeia e as partidas disputadas pelos times da Séria A do Campeonato Brasileiro.   
Além disso, o prestígio da seleção também anda em baixa.
Depois de Diego Costa, que no ano passado trocou o Brasil pela Espanha, chegou a vez de Rafinha, lateral do Bayern Munich. Convocado por Dunga, e sabedor de que na cotação do treinador está atrás de Daniel Alves, Danilo e Fabinho, preferiu a Alemanha, onde depois que se naturalizar poderá eventualmente ser o substituto do lendário Philipp Lahm, que se aposentou da seleção.

 

 

 

(Artigo publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 25/09/2015)

 

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