COM JEITO VAI
“Vai com jeito, vai, senão
um dia a casa cai...” – já dizia uma marchinha carnavalesca de Braguinha,
também conhecido por João de Barro, gravada por Emilinha Borba em 1956.
A letra da marchinha dizia
respeito a uma garota sapeca que aceitava convites festivos de namorados também
sapecas, e acabou servindo de alerta aos desavisados para que cuidassem do seu
comportamento profano porque quando menos se espera a casa que pensávamos ter erigido
sobre uma rocha foi construída em terreno arenoso, e cai (Mateus 7.24.27).
Ir das delícias da
opulência para o amargor do inferno é apenas uma questão de tempo.
José Maria Marin partiu
direto de um dos melhores hotéis de Zurich para uma das melhores prisões da Suiça – Dielsdorf,
Limmattal, Pfäffikon, Meilen, Winthertur, não se sabe ao certo – porque foi
pego com a boca na botija com outros sete dirigentes ligados à Fifa, num processo
movido pela justiça dos Estados Unidos. Na agenda, irregularidades e corrupção
na escolha das sedes das Copas do Mundo de 2018 e 2022 e contratos de
exclusividade para a transmissão dos jogos.
O atual presidente da CBF
Marco Polo Del Nero teve que declinar de um convite para se reunir com outros
presidentes de confederações também na Suíça para discutir sobre a reforma da
entidade e sobre as novas eleições para substituir o atual presidente Blatter,
porque se ele sair do Brasil poderá ter o mesmo destino do seu antecessor. Os
americanos denunciam que Del Nero dividiu propina com Marin e Ricardo Teixeira,
e a desistência da viagem é a maior prova que algum crime foi cometido.
Na semana passada foi a
vez do poderoso Jérôme Valcke, afastado de suas funções de super-secretário
geral da entidade por suspeita de ter participado de um esquema de venda ilegal
de ingressos para a Copa 2014. Possivelmente a sua ida para a cadeia seja
apenas uma questão de tempo.
No olho do furacão se
encontra atualmente o presidente Joseph Blatter que tem a sua possível
participação na bandalheira investigada, com fortes indícios de negociações
espúrias com a Concacaf.
Esta semana foi a vez de
dois outros ilustres caírem na malha da investigação: o ex-craque Michel
Platini, atual presidente da UEFA – União das Federações Europeias de Futebol e
virtual candidato a substituir Blatter na presidência da Fifa, e o atual craque
Neymar junto com a sua sagrada família.
Platini está sendo acusado
de ter recebido 2 milhões de dólares de Blatter de forma irregular – um fato
curioso, pois pelo que se sabe ambos são inimigos cordiais, pois o francês
sempre que possível dá as suas alfinetadas no presidente da Fifa, tendo
inclusive sugerido a sua renúncia ou destituição.
Já Neymar, juntamente com seu
pai, seu agente, o Santos e o Barcelona, está sendo investigado por apropriação
indébita e crimes fiscais, além de corrupção e fraude em fundos de
investimentos, e isto poderá dar muito pano pra manga.
O jogador já acusou o
golpe, pois após ter recebido a notícia teve uma atuação apagada contra os
alemães do Leverkusen pela fase de grupos da Liga dos Campeões.
Do lado de cá do
Atlântico, emanam de Curitiba mandados de prisão a torto e a direito, punindo
cidadãos aparentemente acima de qualquer suspeita – políticos, empresários,
administradores públicos – por terem ultrapassado a linha da decência, da ética
e da moralidade.
Na verdade, este tipo de
infração, em maior ou menor escala, sempre existiu. No futebol, o jornalista
britânico Andrew Jennings há muito denuncia a corrupção na Fifa, e em outros
campos de atividades sempre houve suspeita de falta de lisura em contratos,
transações e movimentações financeiras.
Nada parecido, no entanto,
com as descobertas acontecidas no século 21, o século da lavagem da roupa suja.
Os desavisados perderam o
medo e a compostura, e agora começam a pagar pelos seus pecados.
Assim, as casas vão
caindo, e não foi por falta de aviso.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 02/10/2015)
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