O BARULHO DOS MOTORES
Terminou
mais uma temporada do Campeonato Mundial de Fórmula Um, deixando o aficionado
brasileiro tão desanimado quanto um torcedor de futebol do Mamoré-MG – para
ficarmos longe das polêmicas.
Faz
tempo que os nossos pilotos não “correspondem” e por consequência o número de
aparelhos de televisão desligados caiu tanto a ponto de a TV Globo cogitar se
vale a pena continuar transmitindo pelo canal aberto.
Está
difícil convencer o torcedor a vibrar com Felipe Massa ou a ficar empurrando o frágil
carro de Felipe Nasr com a força do pensamento. Massa está cada dia mais chato
e antiético, transferindo para os outros os problemas criados pelas suas
próprias deficiências. Nasr ainda pode crescer.
Somente
aqueles que gostam realmente do esporte – como eu – se aventuram a assistir às
corridas madrugadoras da China, do Japão ou da Austrália e se emocionam com
pegas de pilotos ingleses e alemães, na falta de brasileiros competitivos.
Mas
de 1988 a 1994 todo brasileiro tinha por hábito não despregar os olhos da
televisão aos domingos para acompanhar as corridas, muitas vezes sacrificando a
praia, o almoço na casa dos parentes e o próprio futebol, naquele tempo em que
o futebol andava relativamente em baixa, como hoje.
Eram
tempos de Ayrton Senna.
A
Fórmula Um é muito antiga, vem de 1950 e já produziu muitos ícones, como Juan
Manuel Fangio, Jack Brabham, Graham Hill, Jim Clark e Jack Stewart, num período
romântico que se estendeu durante cerca de vinte anos, quando a tecnologia começou
a auxiliar os pilotos a conduzir os seus veículos.
No
Brasil, a marca Fórmula Um começou a se evidenciar nos anos 1970, e teve como
prêmio a conquista de um bicampeonato (1972 e 1974) pelo piloto Émerson
Fittipaldi, naquela época em que as transmissões deste tipo de evento ainda
engatinhavam, com poucas câmeras, informação limitada e poucos televisores a
cor.
A
TV Globo contava com uma equipe de esportes da qual participavam Julio
Delamare, Luciano do Valle, Ciro José e o jovem Reginaldo Leme, e a sua
primeira transmissão se deu em 1972. O primeiro título de Émerson Fittipaldi,
porém, foi narrado pelo seu pai, o ex-piloto e radialista Wilson Fittipaldi, chamado
de “O Barão”.
Nelson
Piquet inaugurou uma nova década com o título da temporada de 1981, completado
por um tricampeonato em 1983 e 1987, e foi então que o torcedor brasileiro
começou realmente a tomar gosto pela coisa.
Galvão
Bueno foi contratado pela Globo em 1981 para ser o “segundo” de Luciano do
Valle, e assumiu a titularidade em 1982 com a ida de Luciano para a Record.
A
Fórmula Um é a competição de automobilismo mais antiga que existe e
consequentemente a que continua tendo mais charme, o que provoca uma larga
audiência em todo o mundo.
Pode-se
dizer que apesar da atual entressafra, o Brasil se encontra bem representado na
história da categoria. Começou com Émerson que conquistou dois títulos numa
época em que dirigir um daqueles bólidos era estar sentado em um tanque de
gasolina a uma velocidade de mais de 100 km/h. Seguiu em frente com três
conquistas de Piquet numa época onde os engenheiros contavam menos do que hoje,
o piloto dirigia no braço e sujava a mão de graxa para preparar o motor junto
com os mecânicos.
Aí
apareceu Ayrton Senna, para se transformar no maior ídolo das manhãs de
domingo, com três títulos (em 1988, 1990 e 1991) conquistados com muito arrojo
e determinação, a ponto de ainda ser, até hoje, considerado o melhor piloto de
Fórmula Um de todos os tempos, inclusive por alguns pilotos vencedores, como
Michael Schumacher (o único heptacampeão), Sebastian Vettel (tetracampeão) e
Lewis Hamilton (tricampeão e atual detentor).
Todo
ano são feitas modificações no regulamento das corridas – como pontuação,
pneus, pit-stop – e na tecnologia dos carros visando aumentar a competitividade
e equilibrar as forças entre os diversos pilotos participantes, mas não se pode
dizer que os membros da FIA estão conseguindo grandes progressos, e com isso aumentar
o interesse pelas corridas.
Mesmo
assim, os patrocinadores e parceiros continuam investindo muito dinheiro na
categoria, que lota autódromos em todo mundo com um público cada vez mais
participativo.
O
brasileiro é mais modesto. Apenas sonha com um piloto que possa lhe devolver as
alegrias que Senna – e por que não Émerson e Piquet? – lhe proporcionou nos
últimos anos do século passado.
(Artigo publicado no caderno SuperEsportes do
jornal O Imparcial de 04/12/2015)
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