RECEITA PARA SAIR DA CRISE
O
jogador Douglas Costa, atacante do Bayern München foi cortado da seleção
brasileira que disputa a Copa América nos Estados Unidos por motivo de contusão.
Em
Porto Alegre, onde aproveitou a parada das atividades na Europa para descansar lado
da família, ele concedeu uma entrevista para o jornal Zero Hora, onde assinalou
alguns pontos que entram em sintonia com a minha forma de analisar a decadência
do futebol brasileiro.
Para
ele, os principais problemas se resumem ao exercício da técnica, à aplicação
tática e a um técnico competente.
Expressando-se
com muita clareza – e com muito cuidado para não cair em desgraça com a CBF,
apesar de ter colocado Dunga numa posição não muito confortável – ele criticou
o futebol praticado por aqui, disse que estamos precisando de um Pepe Guardiola
e que nenhum time brasileiro teria condições de disputar uma Champions League,
cujo nível é bem mais elevado.
Na
semana passada eu mencionei que iria tocar neste assunto com mais profundidade,
e a entrevista de Douglas Costa abriu a deixa que eu precisava.
Trocando
em miúdos, os problemas do futebol brasileiro podem ser divididos em três
partes.
Primeiro
a CBF, que é responsável pela organização e pelo calendário.
Do
jeito que está, com os clubes disputando múltiplos torneios durante todo o ano,
os atletas não têm como treinar, pois sua vida se resume ao ciclo “jogo-viagem-reapresentação-avaliação
física-viagem-hotel-jogo-viagem...”, e por aí segue.
A
CBF perdeu a sensibilidade de administrar o futebol como um todo e está mais
preocupada com aquilo que sempre deveria ter sido o seu “métier”, ou seja, a
seleção brasileira. Ocorre que na atual conjuntura, o presidente está
trabalhando com uma espada pendurada e balançando sobre a cabeça e tem
dificuldades para manter os contratos de patrocínio vitais para que as seleções
possam se manter em atividade. O futebol da seleção proncipal perdeu muito do
seu poder de venda, pois deixou de proporcionar espetáculo, e tudo isso acaba
por força deixando o futebol dos clubes em segundo plano.
É
mais que chegada a hora de ser feito um grande pacto entre a CBF e os clubes a
fim de fundar uma Liga sólida e séria que administre o futebol dos clubes como
um todo. As pequenas ligas piratas, solitárias, dissidentes, ranzinzas e sem
força – como a atual Primeira Liga – só ajudam a tumultuar, pois não têm força
nem legitimidade.
Em
segundo lugar, nossos técnicos estão vinte anos atrasados com relação aos de
outros países – inclusive os sul-americanos.
A
forma de jogar dos times estrangeiros, mesmo quando contam com jogadores não
mais que razoáveis, mostra um futebol de ocupação de espaços, deslocamentos, toque
rápido de bola e muita dedicação, e nada disso se vê nos clubes brasileiros por
falta de orientação e acompanhamento técnico.
Nossos
técnicos “não dão certo” no exterior, e deve existir uma boa razão para isso; ainda
esta semana, dois medalhões brasileiros (Vanderlei Luxemburgo e Mano Menezes)
foram demitidos de dois clubes da segunda divisão chinesa.
Por
outro lado, os técnicos estrangeiros que chegam para treinar equipes
brasileiras lutam com a maior dificuldade para impor uma filosofia de jogo,
face ao sistema viciado que atualmente é utilizado nos clubes – vide Edgardo
Bauza (São Paulo), Juan Carlos Osorio (ex-São Paulo) e Paulo Bento (Cruzeiro).
Por
último, o rendimento das equipes poderia ser melhor se os jogadores se
preocupassem mais em treinar fundamentos essenciais para a prática da sua profissão
do que com o “hair stylist”, com as boutiques da moda, com as baladas de funk,
pagode e sertanejo, com a exposição ao lado das Maria-Chuteiras e com as horas
gastas fazendo selfies ou tuitando bobagens.
Jogadores
como Zico e Rogério Ceni, só para citar alguns, passavam horas depois dos
treinos oficiais aprimorando a cobrança de faltas e pênaltis, e às vezes pagavam
do próprio bolso para ter a companhia de um jogador das categorias de base
ajudando no treinamento.
Cafu
foi transformado por Telê Santana de um limitado volante a um lateral que
ajudou a potencializar a função de “ala” no futebol mundial. Nele, Telê
aprimorou também a cobrança de escanteios e os cruzamentos mortais para a grande
área adversária.
Ter
talento é uma coisa. Fazer bom uso do talento é algo bem diferente.
(Artigo publicado no caderno de Esportes do
jornal O Imparcial de 10/06/2016)
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