OS ENCANTOS DO ESPORTE A
MOTOR
Fugindo às suas
características de dar palpites sobre o mundo da bola, Gol de Placa desta
sexta-feira vai abordar um assunto que entre os brasileiros se tornou
extremamente polêmico. Estou de referindo à Fórmula 1.
“Por que polêmico?” –
perguntarão os leitores.
Porque, respondo eu, desde a
morte de Ayrton Senna, poucos se interessam em dedicar as manhãs e madrugadas
de domingo a ouvir o ronco dos motores, como dizem os locutores especializados.
Talvez falte motivação a
esses brasileiros, mas não falta tradição nem história nas corridas
automobilísticas, pois desde 1902 os motores roncavam no Hipódromo Paulistano
em São Paulo. Durante a primeira década do século 20 outras corridas se
realizaram por aqui, mas o esporte se tornou definitivo a partir de 1933 com as
corridas no Rio de Janeiro no Hipódromo da Gávea.
A profissionalização de fato
aconteceu com o piloto Manuel de Teffé, que veio da Europa com o sonho de
organizar as provas automobilísticas no Brasil, o que propiciou o surgimento de
pilotos como Irineu Corrêa e Francisco Landi.
O circuito de Fórmula 1
começou suas aventuras em 1950 em
Silverstone, na Inglaterra, tendo como grande nome o argentino Juan Manuel
Fangio, cinco vezes campeão e duas vezes vice em oito temporadas.
Foi apenas em 1970, em
Brands Hatch, também na Inglaterra, com
a estreia de Emerson Fittipaldi, que o Brasil teve um piloto fazendo parte do
chamado circo. Ele seria bicampeão em 1972 e 1974 e saiu da categoria após uma
fracassada tentativa de fazer andar nas velozes pistas do mundo um carro de
fabricação brasileira, de marca Copersucar, mas foi fazer sucesso na Fórmula
Indy.
Foi quando a imprensa
esportiva brasileira – radio e televisão – começou a transmitir os Grandes
Prêmios, com audiência e patrocinadores garantidos, fazendo surgir uma geração
de entusiastas que eram ao mesmo tempo mecânicos, pilotos e inovadores, geração
que produziria José Carlos Pace, Maurício Gugelmin, Roberto Pupo Moreno e
outros.
A segunda leva de pilotos
brasileiros bem sucedidos teve a participação de Nelson Piquet, que conquistou
três títulos, em 1981, 1983 s 1987, e também mereceu os holofotes.
Mas foi a terceira leva, com
a chegada de Ayrton Senna, que criou toda uma equipe de fãs, levando ao delírio
das manhãs de domingo desde aqueles que realmente se identificavam com o
automobilismo até aqueles que não tinham a mínima intimidade com o esporte e
até relutavam em chamar de esporte aquele conjunto formado por homem e máquina.
Ayrton Senna foi tricampeão
em 1988, 1990 e 1991, foi vice em 1993, e deixou a sensação que poderia ter ido
além não fosse o acidente fatal de 1994 em Imola, na Itália.
Senna representa uma
história à parte para o automobilismo, não apenas no Brasil como também no
resto do mundo. Estreou em 1983 e, de acordo com muitos especialistas deixou um
legado de conquistas e elevou o nível do esporte a outro patamar. Após mais de
vinte anos, pesquisas mostram que o piloto é ainda considerado o melhor de
todos os tempos.
A sua ausência causou uma
grande baixa entre os telespectadores não apenas porque não apareceram pilotos
com o carisma necessário para substituir a sua imagem, mas também porque
brasileiro é um torcedor que “não gosta de esporte, ele gosta de vencer”. Mas a
falta de um piloto brasileiro competitivo não me impede de admirar outros
talentos que fazem do esporte um dos mais considerados no mundo em termos de
mídia, torcida e injeção de dinheiro envolvido.
Depois de Senna, a Fórmula 1
mostrou Michael Schumacher (heptacampeão), Sebastian Vettel (tetracampeão) e
Lewis Hamilton (tricampeão), sem falar dos bicampeões Fernando Alonso e Mika
Hakkinen, todos pilotos de alto nível que sem dúvida também valeram a pena
minha atenção nas temporadas automobilísticas de 1994 para cá.
Domingo passado eu tive a
oportunidade de rever Senna no carro e na alma do holandês Max Verstappen, que nas
voltas finais fez treze ultrapassagens debaixo de intensa chuva, ganhando treze
posições e saindo de um décimo-sexto lugar para o pódio.
Então, vale ou não vale a
pena continuar prestigiando a Fórmula 1?
(Artigo publicado no caderno de Esportes do
jornal O Imparcial de 18/11/2016)
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