domingo, 20 de novembro de 2016





OS ENCANTOS DO ESPORTE A MOTOR

Fugindo às suas características de dar palpites sobre o mundo da bola, Gol de Placa desta sexta-feira vai abordar um assunto que entre os brasileiros se tornou extremamente polêmico. Estou de referindo à Fórmula 1.
“Por que polêmico?” – perguntarão os leitores.
Porque, respondo eu, desde a morte de Ayrton Senna, poucos se interessam em dedicar as manhãs e madrugadas de domingo a ouvir o ronco dos motores, como dizem os locutores especializados.
Talvez falte motivação a esses brasileiros, mas não falta tradição nem história nas corridas automobilísticas, pois desde 1902 os motores roncavam no Hipódromo Paulistano em São Paulo. Durante a primeira década do século 20 outras corridas se realizaram por aqui, mas o esporte se tornou definitivo a partir de 1933 com as corridas no Rio de Janeiro no Hipódromo da Gávea.
A profissionalização de fato aconteceu com o piloto Manuel de Teffé, que veio da Europa com o sonho de organizar as provas automobilísticas no Brasil, o que propiciou o surgimento de pilotos como Irineu Corrêa e Francisco Landi.
O circuito de Fórmula 1 começou  suas aventuras em 1950 em Silverstone, na Inglaterra, tendo como grande nome o argentino Juan Manuel Fangio, cinco vezes campeão e duas vezes vice em oito temporadas.
Foi apenas em 1970, em Brands Hatch, também na Inglaterra,  com a estreia de Emerson Fittipaldi, que o Brasil teve um piloto fazendo parte do chamado circo. Ele seria bicampeão em 1972 e 1974 e saiu da categoria após uma fracassada tentativa de fazer andar nas velozes pistas do mundo um carro de fabricação brasileira, de marca Copersucar, mas foi fazer sucesso na Fórmula Indy.
Foi quando a imprensa esportiva brasileira – radio e televisão – começou a transmitir os Grandes Prêmios, com audiência e patrocinadores garantidos, fazendo surgir uma geração de entusiastas que eram ao mesmo tempo mecânicos, pilotos e inovadores, geração que produziria José Carlos Pace,  Maurício Gugelmin, Roberto Pupo Moreno e outros.
A segunda leva de pilotos brasileiros bem sucedidos teve a participação de Nelson Piquet, que conquistou três títulos, em 1981, 1983 s 1987, e também mereceu os holofotes.
Mas foi a terceira leva, com a chegada de Ayrton Senna, que criou toda uma equipe de fãs, levando ao delírio das manhãs de domingo desde aqueles que realmente se identificavam com o automobilismo até aqueles que não tinham a mínima intimidade com o esporte e até relutavam em chamar de esporte aquele conjunto formado por homem e máquina.
Ayrton Senna foi tricampeão em 1988, 1990 e 1991, foi vice em 1993, e deixou a sensação que poderia ter ido além não fosse o acidente fatal de 1994 em Imola, na Itália.
Senna representa uma história à parte para o automobilismo, não apenas no Brasil como também no resto do mundo. Estreou em 1983 e, de acordo com muitos especialistas deixou um legado de conquistas e elevou o nível do esporte a outro patamar. Após mais de vinte anos, pesquisas mostram que o piloto é ainda considerado o melhor de todos os tempos.
A sua ausência causou uma grande baixa entre os telespectadores não apenas porque não apareceram pilotos com o carisma necessário para substituir a sua imagem, mas também porque brasileiro é um torcedor que “não gosta de esporte, ele gosta de vencer”. Mas a falta de um piloto brasileiro competitivo não me impede de admirar outros talentos que fazem do esporte um dos mais considerados no mundo em termos de mídia, torcida e injeção de dinheiro envolvido.
Depois de Senna, a Fórmula 1 mostrou Michael Schumacher (heptacampeão), Sebastian Vettel (tetracampeão) e Lewis Hamilton (tricampeão), sem falar dos bicampeões Fernando Alonso e Mika Hakkinen, todos pilotos de alto nível que sem dúvida também valeram a pena minha atenção nas temporadas automobilísticas de 1994 para cá.
Domingo passado eu tive a oportunidade de rever Senna no carro e na alma do holandês Max Verstappen, que nas voltas finais fez treze ultrapassagens debaixo de intensa chuva, ganhando treze posições e saindo de um décimo-sexto lugar para o pódio.
Então, vale ou não vale a pena continuar prestigiando a Fórmula 1?     


 (Artigo publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 18/11/2016)




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