O POLÍTICO - III
Ali estava o
velho político,
morto, e além do mais, convicto.
Porém não tão convicto quanto deveria estar,
pois morto é morto, e não tem o direito de se levantar.
morto, e além do mais, convicto.
Porém não tão convicto quanto deveria estar,
pois morto é morto, e não tem o direito de se levantar.
Ressureição,
paz e anjos!
Será que este velho é santo?
Se não, que mistério é esse,
o que vejo é certo aqui deste canto?
Será que este velho é santo?
Se não, que mistério é esse,
o que vejo é certo aqui deste canto?
Já me disseram
que a morte
não é tão morte, nem clínica,
já me disseram um dia.
Mas pra deixar de ser morte
depois de frio o defunto,
só sendo catalepsia.
não é tão morte, nem clínica,
já me disseram um dia.
Mas pra deixar de ser morte
depois de frio o defunto,
só sendo catalepsia.
Mas estas
portas fechadas,
estas janelas de grades
e este pavor no meu estômago
fazem-me saber de pronto
que se não há ainda um morto,
haverá logo um, de emborco.
estas janelas de grades
e este pavor no meu estômago
fazem-me saber de pronto
que se não há ainda um morto,
haverá logo um, de emborco.
Além da fome e
do engano,
da peste e da baioneta,
também mata e fere o medo,
mata ou muda a consciência.
da peste e da baioneta,
também mata e fere o medo,
mata ou muda a consciência.
Não é correto
nem justo
que os bons permaneçam mortos
e que este patife defunto
se levante e à vida volte.
que os bons permaneçam mortos
e que este patife defunto
se levante e à vida volte.
Compreendo que
não estava morto,
apenas fingindo estava,
talvez pra sentir o gosto
de saber quem o odiava.
apenas fingindo estava,
talvez pra sentir o gosto
de saber quem o odiava.
E percebeu,
nesse dia,
muito embora já o soubesse,
que no velório não havia
um cristão que o conviesse.
muito embora já o soubesse,
que no velório não havia
um cristão que o conviesse.
Nem lágrimas,
nem soluços,
nem adeuses, lenços brancos.
Só eu, curioso inconsciente,
me encontro aqui neste canto.
nem adeuses, lenços brancos.
Só eu, curioso inconsciente,
me encontro aqui neste canto.
1988
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