quarta-feira, 18 de abril de 2018






COMO NASCEM AS CANÇÕES

(Parte 6)

(Artigo escrito para a página da Academia Poética Brasileira – https//www.facebook/com/academiapoetica/. Este site é uma publicação da Academia Poética Brasileira, da qual sou membro)


Sempre gostei muito de óperas, operetas e teatro musical.
A integração do enredo com as músicas compostas exclusivamente para ilustrar as situações mostradas na trama e o arranjo musical que acompanha a história mantém um desenvolvimento de ações cuja coesão, somada à interpretação do elenco leva a ópera a emocionar o espectador mesmo quando os diálogos se desenvolvem em língua estrangeira.
A iniciação veio ainda quando criança, quando ouvia óperas cantadas nas árias de Puccini, Verdi e Rossini, compositores italianos escolhidos a dedo pelo avô Pedro Cantieri, que ia às lágrimas com os dós de peito da soprano e do tenor.
Na agenda, a “Aria Di Musetta”, da ópera “La Boheme” (Giacomo Puccini), o “Brindisi”, de “La Traviata” (Giuseppe Verdi) e o “Figaro”, do “Il Barbiere Di Seviglia” (Gioachino Rossini), com melodias encantadoras e arranjos fantásticos.  
Só muito mais tarde tive a oportunidade de assistir a encenações operísticas ao vivo, o que apenas fez aumentar o meu entusiasmo pela matéria.
Também aumentaram o meu entusiasmo as operetas e os musicais que me foram transmitidos pelo cinema de Hollywood dos anos 1960 – como “West Side Story” (“Amor Sublime Amor”) de 1961, “My Fair Lady” (“Minha Querida Dama”)  de 1965 e “The Sound Of Music” (“A Noviça Rebelde”), também de 1965, e pelo teatro de vanguarda brasileiro dos anos 1960, que agregava muita música a muito clamor social e mensagens políticas pungentes ao mesmo tempo que românticas, dentro de um cenário simples e reduzido – ao contrário do esplendor das montagens das óperas e dos espetáculos musicais.
Foi levando em conta tudo isso que eu pretensiosamente resolvi, no final da década de 1960, escrever uma peça musicada tendo como inspiração as apresentações dos Teatros de Arena e Oficina, em São Paulo, dos quais eu era frequentador assíduo.
As encenações do Arena e do Oficina que me serviram de inspiração traziam uma abordagem diferente, onde a participação do público era mais sentida. Os shows “Opinião“ (1964), dirigido por Augusto Boal, “Arena Conta Zumbi” (1965), com texto de Gianfrancesco Guarnieri e “Roda Viva” (1967) escrita por Chico Buarque são exemplos de teatro musical de vanguarda no Brasil.
A minha peça tinha o pomposo nome de “Ópera do Amor em Tempo de Revolta” e o libreto faz parte do meu livro “O Fantasma da FM”, lançado em 1992. Escusado dizer que nunca foi exibida, sequer ensaiada, e que a montagem ocorreu apenas dentro da minha cabeça.
A peça conta a história de um rapaz chamado João que trabalha em uma fábrica pertencente a um industrial cuja filha, Maria, se apaixona por ele – e vice-versa – dando origem a uma série de situações que incluem uma greve e um final feliz (diferentemente do que acontece com muitas óperas tradicionais).
Daí surgiram algumas músicas já divulgadas na minha rede social e no meu blog, cujas letras podem ter sido a princípio um tanto incompreensíveis ao leitor porque foram compostas para atender o enredo, isto é, faziam parte de um contexto específico.
Além de João e Maria, protagonistas, a história tem a participação de Simão (pai de Maria mais interessado nas suas indústrias do que nos amores da filha), Elisa (a preconceituosa amiga de Maria, que não entende a sua paixão por um empregado da fábrica) e um bocado de figurantes.
Estou transcrevendo nos próximos capítulos as letras de algumas músicas na sequência em que são apresentadas na peça. As melodias também são da minha autoria, exceto quando compostas pelo amigo e parceiro Renato Winkler e devidamente anotado.


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