segunda-feira, 7 de maio de 2018





O IMPROVISO NO JAZZ

(Parte 2 - final)

(Artigo escrito para a página da Academia Poética Brasileira – https//www.facebook/com/academiapoetica/ )


A improvisação é uma forma de o intérprete apresentar a música, na qual ele busca impor uma identidade própria, de acordo com o seu feeling do momento.
Isto significa que dependendo daquele instante, da disposição, do humor e do estado de espírito em que se encontra, o mesmo intérprete pode apresentar diferentes maneiras de se expressar em diferentes ocasiões, exibindo improvisos diferentes para a mesma música. Isto significa também que um improviso quase nunca é repetido nos detalhes pelo mesmo músico quando de diferentes apresentações da mesma música, mesmo se ele estiver se apresentando com os mesmos músicos.
Como já foi ressaltado, a improvisação pode nascer tanto da habilidade técnica e da sensibilidade que o músico tenha para executar sua interpretação, como de alguma dificuldade que ele possa ter para desenvolver ipsis litteris aquilo que foi escrito pelo compositor. Assim, ele acaba alterando a linha melódica original, e ao fazê-lo acaba muitas vezes, com a sua releitura, compondo uma nova melodia, diversa daquela que foi escrita, embora feita sobre a mesma base harmônica.
Ao contrário do que muita gente pode pensar, a improvisação não acontece apenas com o jazz ou com a música popular moderna.
Muitas músicas que hoje chamamos de erudita, mas que podiam ser consideradas “música popular” na época em que foram compostas, também são pródigas em improvisação, pois frequentemente sofrem modificações no andamento e na melodia nas mãos dos solistas.
O piano de Lizst, Chopin ou Mozart ou o violino de Paganini frequentemente traduziam diferentes variações sobre um mesmo tema, podendo tornar a mesma música mais alegre, mais contemplativa, mais agressiva ou mais romântica, dependendo do desejo do executante.
Estas improvisações, no entanto, nada tinham de jazzistas e muitas vezes não eram exatamente improvisações, mas formas estudadas de executar a melodia e de explorar o mesmo tema em tonalidades maior/menor em diferentes situações.
No jazz isto não acontece, pelo simples fato de que o intérprete jazzista, por mais que memorize certas improvisações, sempre adicionará ou omitirá algum detalhe, levando em consideração o seu “mood” no momento da execução, a interação com os outros instrumentos e a sua criatividade pessoal.
Isto porque o jazz baseia a sua sonoridade em uma peculiaridade que o diferencia dos outros gêneros musicais, tendo como base dois elementos importantes que não existiam na música erudita e não estão presentes em boa parte das músicas modernas: as blue notes (algumas notas diminuídas na escala diatônica tradicional, conferindo à interpretação uma nova escala) e o off-beat (inversão na batida convencional, provocando uma acentuação rítmica não convencional).
Estas são algumas características do jazz, e o músico que não se identifica com elas jamais produzirá o verdadeiro jazz.
O jazz precisa ter também um balanço todo especial, que conhecemos por swing. Além do mais, ele também necessita de espontaneidade, vitalidade e de um correlacionamento entre os executantes que dispensa, embora não exclua, uma regência ou partituras escritas.
Finalmente, o jazz necessita de um fraseado e de uma sonoridade que espelhem a individualidade de cada músico, quer nos solos quer nas intervenções em conjunto.
O músico de jazz precisa possuir estas características, isto é, ter muita alma e muito “feeling”. Isto significa ter uma sensibilidade aguçada que extrapola o puro e simples conhecimento técnico na execução do instrumento ou na interpretação vocal. E é esse swing, essa interação e essa sensibilidade que propiciam o improviso do músico.
O jazzista deve “sentir” cada passagem da melodia de uma maneira muito particular e expressar o seu sentimento em termos de música obedecendo não apenas o que lhe diz o seu instinto, mas também o que determina a concepção do verdadeiro jazz.
O estilo conhecido como “swing” ou o jazz das “big bands”, que possuem como uma das características a formação de naipes de instrumentos que produzem sons harmônicos dotados de blue notes e de off-beats, têm como base arranjos escritos em partituras, o que evita sons desencontrados de instrumentos do mesmo naipe e valoriza a linha harmônica dos instrumentos quando executados em conjunto. No entanto, os solos individuais permitem que os músicos desenvolvam os seus improvisos dentro de um determinado número de compassos que lhes forem designados, mesmo obedecendo ao que foi estabelecido pelo arranjador.
Os temas construídos para o jazz tradicional e para o bebop também obedecem a linhas melódicas rígidas, mas os solos individuais se libertam da rigidez do tema e dão luz aos improvisos.
  

Nenhum comentário: