A VIDA INGLÓRIA DE
TALARICO
(excerto)
(excerto)
Saí
do prédio e recebi no rosto um chuvisco fino de garoa fria.
A
noite piorara consideravelmente e esse mau tempo, combinado com a sauna tomada
à tarde, não me iria fazer bem algum.
Entrei
de corpo e alma na garoa que neblinava as luzes amarelas dos postes e neblinava
a minha já neblinada visão.
Empurrado
pelo vento e pela chuva, caminhei mais alguns passos e me deparei com uma
pequena multidão como as que rodeiam os mágicos ambulantes, expectadores concentrados
e curiosos comentando o fato, alguns chegando outros indo embora, enquanto um
guarda apitava e mais longe o que apitava era um trem.
Aproximei-me
para participar do aglomerado no momento em que algumas pessoas saíam deixando um
lugar vago na primeira fila, como nos grandes teatros, para que eu pudesse
assistir à cena final de mais uma tragédia urbana.
Talarico
estava estendido na calçada com um braço ao longo do corpo e o outro acima da
cabeça, tendo na mão uma taça de conhaque quebrada, os cacos se misturando com
o molhado da rua, um filete de sangue escorrendo do nariz e avermelhando o
bigode.
A
água borrifava sobre o seu rosto como se nevasse nos cabelos arrepiados.
No
bolso superior do paletó a nota fiscal da última comemoração.
Não
havia nenhum padre a lhe aspergir a água do perdão.
Pelo
menos por enquanto.
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