segunda-feira, 3 de setembro de 2018





A CORDA
(excerto)

A corda.
A corda balança como se na outra extremidade habitasse um cadáver. Um fio de prumo no prumo, dependurado, fixado lá no alto do prédio, passando em frente da janela que é só vidro, no décimo-primeiro andar, altura suficiente para o homem sentir as sensações de Ícaro, projetar-se nos ares, voar sem asas.
Eis a corda.
A corda balança ao sabor do vento e bate na parede corrugada de concreto ao lado do fio do telefone e do para-raios prendidos com grampos.
A corda está arrebentada, criminosamente arrebentada na altura do décimo-primeiro andar, mas puxada para baixo pelo peso do morto enquanto vivo agora prende frouxa até o nono.
E o andaime, lá em baixo, aos pedaços.

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