A CORDA
(excerto)
A
corda.
A
corda balança como se na outra extremidade habitasse um cadáver. Um fio de
prumo no prumo, dependurado, fixado lá no alto do prédio, passando em frente da
janela que é só vidro, no décimo-primeiro andar, altura suficiente para o homem
sentir as sensações de Ícaro, projetar-se nos ares, voar sem asas.
Eis
a corda.
A
corda balança ao sabor do vento e bate na parede corrugada de concreto ao lado
do fio do telefone e do para-raios prendidos com grampos.
A
corda está arrebentada, criminosamente arrebentada na altura do décimo-primeiro
andar, mas puxada para baixo pelo peso do morto enquanto vivo agora prende
frouxa até o nono.
E
o andaime, lá em baixo, aos pedaços.
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