HOTEL BUENA VISTA
(Excerto)
O corredor era imenso, e lá havia mais
espelhos do que aparentava haver. Parecia também que o teto era mais alto, até
onde a vista não conseguia alcançar.
Lá no fundo do corredor, quase a perder
de vista, uma governanta se movia lentamente empurrando um carrinho cheio de
fronhas e lençóis, e a sua imagem se multiplicava pelas paredes espelhadas, se
movendo como num caleidoscópio.
Federico Pulga estava estático, mas o
corredor parecia se mover e as portas se sucediam, embora a numeração dos
quartos permanecesse sempre a mesma – 316 – e a semiobscuridade não permitisse
que os detalhes fossem vistos com clareza.
Vultos saíam das sombras e entravam
pelas portas, dando a impressão que atravessavam silenciosamente as paredes. Apesar
de o piso estar forrado por um carpete espesso, Federico podia ouvir passos
atrás de si, mas ao girar nos calcanhares ele via simplesmente a sua imagem
multiplicada pelos espelhos.
O corredor estava abafado, mas uma
lufada de vento frio se fez presente às suas costas e de repente já era
possível ouvir o barulho da chuva que continuava ininterrupta como se uma
abertura tivesse sido feita na parede da extremidade do corredor. As luzes
fracas piscaram algumas vezes como se a energia elétrica estivesse entrando em
colapso.
Federico viu então um homem se aproximar.
O estranho era alto e circunspecto e tinha os cabelos prateados em desalinho.
Estava impecavelmente trajado a rigor.
No exato momento em que Federico estava
para cruzar com o estranho as luzes se apagaram definitivamente e o ruído da
chuva e a força do vento também cessaram de repente.
Ato contínuo, o som de um piano se fez
ouvir, deixando no meio da escuridão uma melodia que Federico não conseguia
identificar.
-0-0-0-
Ao chegar à aporta do ser apartamento,
ele olhou para ambos os lados do corredor. À sua esquerda, apenas algumas
lâmpadas mortiças que se refletiam nos espelhos e se diluíam no vermelho do
revestimento. À sua direita, o corredor se afunilando e desembocando nas
escadas.
Federico entrou no quarto, ansioso e
desperto, mas sentiu que precisava dormir. Apagou a luz e meteu-se debaixo das
cobertas para aguardar o sono com os olhos fechados. Decidiu que, acontecesse o
que acontecesse, ele só sairia da cama quando amanhecesse o dia.
Após um período de vigília, ele
finalmente adormeceu, sem sonhos marcantes nem visões que denunciassem os
fantasmas do hotel, até que o alvorecer trouxesse um pouco de claridade.
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