segunda-feira, 28 de janeiro de 2019





O ESTUDO COMO FORMA DE CRESCIMENTO

Este artigo foi escrito para os adolescentes que acham que as coisas caem do céu – e as nossas escolas estão repletas deles – e foi publicado num jornalzinho interno de uma escola de inglês. A finalidade foi despertar nos jovens leitores – embora provavelmente leitores apenas ocasionais – a extrema necessidade de se preparar para o futuro, porque muito em breve eles terão que enfrentar uma batalha entre os mais fortes. Sem a menor intenção de ter escrito outro abominável texto de autoajuda, tenho plena consciência de que este artigo é também dirigido aos adultos irresponsáveis que pensam em enriquecer apenas materialmente – certamente apostando em loterias – se esquecendo que sem um suporte cultural os novos ricos não passam de ricos idiotas. 

Certa vez, há muitos anos, mesmo sem jogar lá essas coisas eu resolvi fazer do xadrez o meu passatempo predileto.
Para tanto, combinei com um amigo para que praticássemos um pouco todo final de dia. Ele era o que se pode chamar de “um bom jogador”.
Então, diariamente, depois das cinco, as partidas se desenrolavam naturalmente e eu, é claro, perdia todas!
A coisa tomou tal dimensão e as derrotas se tornaram tão rotineiras e contundentes que eu decidi que era chegada a hora de mudar o rumo da minha história sobre o tabuleiro.  
Como Bóris – este era o seu nome – teve que viajar, tivemos uma pausa de quinze dias, tempo necessário para eu comprar dois ou três livros e começar a estudar, dedicando parte do meu tempo para as aberturas, parte para o desenvolvimento e parte para os finais de partida.
Aprendi muito com Ruy Lopez, Alekhine, Capablanca e outros mestres, até que chegou a hora de testar meu novo perfil contra o meu amigo.
Para minha surpresa – e a dele – comecei sistematicamente a ganhar as partidas, algumas até sem muita dificuldade. Após algumas derrotas, Bóris questionou o meu súbito crescimento xadrezista.  
Expliquei o que havia feito e também lhe mostrei os livros. Após as explicações de praxe, ele coçou a cabeça e declarou solenemente que iria também começar a estudar.
Este episódio, apesar de nada especial, me deixou duas lições.
Primeira, por mais que você acha que sabe, sempre existe espaço para saber um pouco mais, ou seja, somos todos ignorantes e as portas do conhecimento são inesgotáveis. “A única coisa que eu sei é que eu nada sei”, disse Aristóteles.
Segunda, quanto mais você aprimora o seu conhecimento, maiores são as possibilidades de você se tornar um vencedor. Isto acontece com o xadrez, isso acontece com qualquer matéria da vida, inclusive no que diz respeito ao aprendizado de uma língua estrangeira.  
Toda forma de estudo é primordialmente uma questão de vontade.
Diferentemente de outro tipo de estudo acadêmico – química, física, biologia – que requer muita leitura, experimentos, alguma memorização e uma boa dose de paciência, estudar idiomas é mais uma questão prazerosa de se manter ligado às coisas que nos cercam.  
Você aprende inglês diariamente assistindo TV, lendo cartazes, apreciando vitrines e fachadas comerciais, ouvindo música, navegando na internet ou tentando entender o manual de instruções daquele novo implemento eletrônico que você acabou de adquirir.
E tem mais: ao se integrar numa sala de aula você se socializa praticando o idioma com o professor e com os seus colegas, descobre curiosidades e particularidades de uma cultura diferente e se diverte ao descortinar coisas novas. Em outras palavras, você se diferencia do comum e se torna uma pessoa com o futuro mais resolvido, ao mesmo tempo se divertindo ao descortinar coisas novas Você realmente começa a fazer parte do mundo globalizado em que estamos vivendo e fica pronto para aceitar desafios aqui ou em qualquer parte do mundo.
O negócio é não se conformar com os nossos reveses só porque aquele outro alguém está tendo mais sucesso. Temos é que estudar, qualquer que seja a forma e o método, para garantir um lugar na sociedade competitiva em que vivemos.
Foi desta forma que eu equilibrei as forças com o meu amigo Bóris.


   


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