A CORDA
(excerto - II)
De repente, a corda se distendeu mais do
que devia e depois afrouxou. Ao mesmo tempo soou um grito, parecia uma sirene,
foi se distanciando e terminou com um baque sinistro. Lá em baixo, um corpo
retorcido no solo, esborrachado como um tomate.
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“Eu fui pra praia sexta-feira à noite” –
começa Zacarias a contar. “A noite estava clara, quente, e eu suarento. Peguei
minha roupa de banho e de baixo, apanhei o ônibus e fui pra praia. Não tenho
testemunhas, mas estava lá. A praia estava quente, clara, e eu suarento. Era
noite, mas mesmo assim tomei um banho de mar – você já fez isso? – é uma
beleza! As ondas estavam altas, a orla deserta e a água subia até o fim da
areia, a lua parecia maior no seu contraste com o céu de fundo negro. Água de
coco gelada, cheiro de mar”.
“Tudo estava maravilhoso, eu havia até
esquecido meu apartamento com meus livros, minhas gravuras, meus anjos de porcelana,
meus problemas. Mas uma armação de madeira, dessas enormes feitas para colar
cartazes, trouxe-me à mente o meu drama”.
“Estão pintando o lado de fora do
edifício onde moro, onde armaram uns andaimes de madeira e corda pra acomodar
os pintores com as suas tintas. Existe inclusive uma corda descendo na vertical
bem em frente à minha janela. Uma corda grossa, cheia de nós, para segurar a madeira
e o pintor sentado nela”.
“Fugi de casa e fui pra praia porque
estou ficando maluco”, continuou Zacarias. “Cada vez que acordo à noite e olho
a corda penso escutar a polícia batendo na minha porta para me levar aos berros
pelo corredor cheio de eco, me atirando no elevador e depois numa cela, ditando
a minha sentença”.
“Cortaram a corda, professor, cortaram a
corda bem na cara da minha janela!”.
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