PÁGINAS
ESCOLHIDAS
O
FANTASMA DA FM (1992)
(Augusto Pellegrini)
A PREGUIÇA
A preguiça do Juvenal era proverbial.
Às vezes deixava de almoçar para não ter que ir até a cozinha preparar o prato,
às vezes deixava de tomar banho para não despertar daquele gostoso torpor que a
indolência lhe causava.
Tinha preguiça de amarrar os sapatos, e já tomara um tombo monumental ao
enroscar os pés nos cordões, num dia de relativa pressa.
Já perdera uma namorada porque se negava a passear e preferia dormitar candidamente
no seu colo com as mãos afagando suas loiras melenas, até que ela se enfadou
com tanto enfado e foi procurar outro que pudesse agitar os seus dezesseis anos
carentes.
A preguiça do Juvenal fizera com que ele deixasse de ir à casa lotérica do outro
lado da rua pra levar um volante já preenchido – a fila longa não o encorajou
ir ao encontro da sorte, e ele achou melhor ficar em casa dormitando sob o
frescor do ventilador.
No domingo à noite na hora da zebrinha do Fantástico ele resolveu conferir o
volante não jogado. Mesmo confundindo Bilbao com Guijón e CSA com CSE ele acertou
a improvável vitória de uma Sanbenedettese contra o Milan e carimbou os treze
pontos, como bem atestava o volante.
O volante que, por preguiça, ele não jogou.
(Um breve
estudo sobre o possíveis malefícios causados pela indolência)
Nenhum comentário:
Postar um comentário