domingo, 27 de março de 2022

 


                                                         ENTRE O JAZZ E O CHORO                                                                                                               (Augusto Pellegrini)                   

                                                                      Parte 1 

(Trecho do meu livro “AS CORES DO SWING”, estabelecendo uma relação entre o choro e o jazz. O livro está pronto, e está sendo lançado no site Facetubes)

 

No entanto, é bom que se frise que Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, esteve em Paris com Os Oito Batutas em 1922, onde chegou a interagir com algum tipo de jazz. Ele ficou por lá durante seis meses e levou um repertório composto de samba, maxixe e choro, trazendo de volta na bagagem algum charleston, ragtime e shimmy (uma espécie de dança na qual a pessoa mantinha o corpo ereto e apenas movia os ombros, famosa na época com a música de Spencer Williams “Shim-Me-Sha-Wabble”, de onde provém o seu nome).

E, apesar da pouca penetração que o jazz tinha nos ouvidos brasileiros, posto que no Brasil havia uma profunda xenofobia que torcia o nariz para as artes externas – que foi exacerbada pela Semana de Arte Moderna – existiam formações, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, que se autodenominavam orquestras de jazz, como a do violinista Dante Zanni, a Jazz Band do Batalhão Naval, a Jazz Band Sul-Americano do saxofonista Romeu Silva, algumas sociedades carnavalescas e a Carlitos et Son Orchestre, do baterista Carlos Blassifera, que foi para a França, onde se radicou em 1926. Mas, mesmo com esta pequena troca de experiências, o que no Brasil se chamaria de jazz se resumiu a algumas poucas tentativas imitativas mais ou menos canhestras.

De um modo geral, o Brasil ignorou as lições que falavam sobre o blues e o jazz tradicional de Nova Orleans, e quando começou a realmente se interessar pelo assunto, o conteúdo já estava na página do swing.  

A nossa cultura musical, assim como acontece com outros aspectos da cultura brasileira, se apoiava em um tripé que tinha a origem no índio nativo, no negro escravo e no português colonizador.

O índio foi o responsável pela criação do instrumento percussivo básico; o negro nos brindou com o canto, a dança e a alma, com muita ginga e malícia; e o português, que trouxe da Corte os instrumentos musicais – piano, violão, violino, e posteriormente os metais e as madeiras – nos presenteou com a teoria musical europeia.

Um país preocupado em descobrir a sua própria musicalidade não parecia ser o local apropriado para que uma outra música – já elaborada, recém-criada e absolutamente diferente de quase todos os matizes que faziam parte da nossa identidade na época – pudesse chegar e se desenvolver.

Dizemos “quase” todos os matizes porque o legado que o negro escravo no Brasil deixou para a música foi, em essência, o mesmo legado que a música americana recebeu do negro escravo que para lá fora mandado.

 

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