COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Augusto Pellegrini)
(Parte 8)
Edu Lobo, que
já havia composto com Vinicius a romântica “Canção Do Amanhecer” (“Ouve, fecha os olhos meu amor, é noite ainda
/ Que silêncio / E nós dois na tristeza de depois / A contemplar o grande céu
do adeus...”), também entrou no
movimento da “nova música popular” dentro de uma abrangência maior, cantando a
saga do retirante nordestino em fuga do seu destino para o sul do país, como em
“Borandá” – “vamos embora” no linguajar do sertão – (“Vam’borandá, que a terra já secou / Borandá / Vam’borandá, que a chuva
não chegou / Borandá / Já fiz mais de mil promessas / Rezei tanta oração / Deve
ser que eu rezo baixo / Pois meu Deus não ouve não...”) ou “Chegança” (“Estamos chegando daqui e dali / E de todo
lugar que se tem pra partir / Trazendo na chegança foice velha e mulher nova /
E uma quadra de esperança...”).
Foi quando Roberto
Menescal e Luiz Fernando Freire responderam com uma música na tentativa de acabar
com a polêmica que já começava a dividir os músicos do Rio ao mesmo tempo em
que justificava coexistência pacífica do “mar-amor-luar” e da “lata d’água na
cabeça”, estado de coisas que apontava um dos sérios problemas sociais ainda
presentes no estado.
A música se
chama “Vê”, foi composta em 1964, e segue assim – (“Vê, entende a gente / Que é feita de amor / E simplesmente à vida dá
valor / E sem razão pra tanta reunião / Pra nós importa a voz do coração / E o
nosso tema consiste de ternura / Mas só entende quem tem a alma pura / E não
depende de quem não vê / Que o mundo é cor / Que o mundo é céu e mar / E que
uma flor não vai alienar / Uma canção que é feita pra cantar / E a discussão
não vai adiantar / Quem tanto fala devia embora andar / Na mesma praia um dia
vai achar / O mesmo céu e aquele mesmo mar...”).
Marcos e Paulo Sérgio Valle também entraram na onda do desagravo da bossa nossa
com “A Resposta” (“Se alguém disser que o
teu samba não tem mais valor / Porque ele é feito somente de paz e amor / Não
ligue não, que essa gente não sabe o que diz / Não pode entender quando um
samba é feliz / O samba pode ser feito de céu e de mar / O samba bom é aquele
que o povo cantar / De fome basta o que o povo na vida já tem / Pra que lhe
fazer cantar isso também?... / ... Falar da terra na areia do Arpoador / Quem
pelo pobre na vida não faz um favor / Falar do morro morando de frente pro mar
/ Não vai fazer ninguém melhorar”).-0-
Alheias ao
movimento surgiram peças um pouco mais raras, mas não menos belas, como as
composições que mostram o diálogo entre duas pessoas – como em “Sinal Fechado”, obra prima de
Paulinho da Viola lançada por ele no V Festival de MPB da TV Record em 1969 (“Olá, como vai? / Eu vou indo, e você, tudo bem?
/ Tudo bem! Eu vou indo correndo, buscar meu lugar no futuro, e você? / Tudo
bem! Eu vou indo em busca de um sono
tranquilo... quem sabe? / Quanto tempo, pois é, quanto tempo...”), ou “Amigo
É Pra Essas Coisas”, composta por Aldir Blanc e Silvio da Silva Junior em 1970
e imortalizada pelo MPB4 (“Salve! Como é
que vai? / Amigo, há quanto tempo! / Um ano ou mais / Posso sentar-me um pouco?
/ Faça o favor / A vida é um dilema / Nem sempre vale a pena / A... / O que é
que há? / ...Rosa acabou comigo / Meu Deus, por que? / Nem Deus sabe o motivo /
Deus é bom... / Mas não foi bom pra mim / Todo amor um dia chega ao fim...”).
Ou lembrando ainda a antológica “Teresa Da Praia”, de Antônio Carlos Jobim e
Billy Blanco, que já havia sido composta em 1954 para as vozes de Dick Farney e
Lucio Alves (“Lucio, arranjei novo amor
no Leblon / Que corpo bonito, que pele morena / Que amor de pequena, amar é tão
bom, tão bom / Oh, Dick, ela tem o nariz levantado / Os olhos verdinhos
bastante puxados / Cabelos castanhos / E uma pinta do lado...”).
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