domingo, 24 de abril de 2022

 


COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Augusto Pellegrini)
 

(Parte 8) 

Edu Lobo, que já havia composto com Vinicius a romântica “Canção Do Amanhecer” (“Ouve, fecha os olhos meu amor, é noite ainda / Que silêncio / E nós dois na tristeza de depois / A contemplar o grande céu do adeus...”),  também entrou no movimento da “nova música popular” dentro de uma abrangência maior, cantando a saga do retirante nordestino em fuga do seu destino para o sul do país, como em “Borandá” – “vamos embora” no linguajar do sertão – (“Vam’borandá, que a terra já secou / Borandá / Vam’borandá, que a chuva não chegou / Borandá / Já fiz mais de mil promessas / Rezei tanta oração / Deve ser que eu rezo baixo / Pois meu Deus não ouve não...”) ou “Chegança” (“Estamos chegando daqui e dali / E de todo lugar que se tem pra partir / Trazendo na chegança foice velha e mulher nova / E uma quadra de esperança...”).  

Foi quando Roberto Menescal e Luiz Fernando Freire responderam com uma música na tentativa de acabar com a polêmica que já começava a dividir os músicos do Rio ao mesmo tempo em que justificava coexistência pacífica do “mar-amor-luar” e da “lata d’água na cabeça”, estado de coisas que apontava um dos sérios problemas sociais ainda presentes no estado.

A música se chama “Vê”, foi composta em 1964, e segue assim – (“Vê, entende a gente / Que é feita de amor / E simplesmente à vida dá valor / E sem razão pra tanta reunião / Pra nós importa a voz do coração / E o nosso tema consiste de ternura / Mas só entende quem tem a alma pura / E não depende de quem não vê / Que o mundo é cor / Que o mundo é céu e mar / E que uma flor não vai alienar / Uma canção que é feita pra cantar / E a discussão não vai adiantar / Quem tanto fala devia embora andar / Na mesma praia um dia vai achar / O mesmo céu e aquele mesmo mar...”).
Marcos e Paulo Sérgio Valle também entraram na onda do desagravo da bossa nossa com “A Resposta” (“Se alguém disser que o teu samba não tem mais valor / Porque ele é feito somente de paz e amor / Não ligue não, que essa gente não sabe o que diz / Não pode entender quando um samba é feliz / O samba pode ser feito de céu e de mar / O samba bom é aquele que o povo cantar / De fome basta o que o povo na vida já tem / Pra que lhe fazer cantar isso também?... / ... Falar da terra na areia do Arpoador / Quem pelo pobre na vida não faz um favor / Falar do morro morando de frente pro mar / Não vai fazer ninguém melhorar”).
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Alheias ao movimento surgiram peças um pouco mais raras, mas não menos belas, como as composições que mostram o diálogo entre duas pessoas –  como em “Sinal Fechado”, obra prima de Paulinho da Viola lançada por ele no V Festival de MPB da TV Record em 1969 (“Olá, como vai? / Eu vou indo, e você, tudo bem? / Tudo bem! Eu vou indo correndo, buscar meu lugar no futuro, e você? / Tudo bem!  Eu vou indo em busca de um sono tranquilo... quem sabe? / Quanto tempo, pois é, quanto tempo...”), ou “Amigo É Pra Essas Coisas”, composta por Aldir Blanc e Silvio da Silva Junior em 1970 e imortalizada pelo MPB4 (“Salve! Como é que vai? / Amigo, há quanto tempo! / Um ano ou mais / Posso sentar-me um pouco? / Faça o favor / A vida é um dilema / Nem sempre vale a pena / A... / O que é que há? / ...Rosa acabou comigo / Meu Deus, por que? / Nem Deus sabe o motivo / Deus é bom... / Mas não foi bom pra mim / Todo amor um dia chega ao fim...”). Ou lembrando ainda a antológica “Teresa Da Praia”, de Antônio Carlos Jobim e Billy Blanco, que já havia sido composta em 1954 para as vozes de Dick Farney e Lucio Alves (“Lucio, arranjei novo amor no Leblon / Que corpo bonito, que pele morena / Que amor de pequena, amar é tão bom, tão bom / Oh, Dick, ela tem o nariz levantado / Os olhos verdinhos bastante puxados / Cabelos castanhos / E uma pinta do lado...”).

       

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