PÁGINAS ESCOLHIDAS
Do
livro À NOITE, TODOS OS GATOS (1998)
(Augusto Pellegrini)
A
NOITE DA MARIOLA
O céu toma a cor do azulado da
madrugada antes de se tingir com o âmbar do nascer do sol. O mar repousa lá ao
longe na sua maré baixa deixando à vista um banco de areia com formato de praia
tão vasto quanto um deserto.
A velha Mariola com sua cara de bruxa recolhe as garrafas vazias e os pratos
com os restos de peixe e camarão, agora que o garçom que nos servia, com seu jeito
enferrujado e sua cara de vela já se apagou, enquanto a linda Raíssa, que
felizmente não saiu à mãe, acena o adeus com as mãos, o vento colando o vestido
fino por sobre o corpo, denunciando um belo par de pernas e uma escultura de
ventre e ancas que positivamente não lembram sereia alguma.
Sento num banco da orla e olho com desprazer para Gilberto, meu amigo de farra,
aboletado no banco ao lado enrolado feito um pacote, qual um gato procurado se
proteger da brisa úmida da madrugada. Os pés descalços se encolhem sobre o
cimento frio como os pés de um macaco.
Foi uma noitada – soluço! – e tanto. Deveras.
(Resultado de muita cerveja tomada no Bar da Mariola)
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