PÁGINAS ESCOLHIDAS
Do
livro À NOITE, TODOS OS GATOS (1998)
(Augusto Pellegrini)
TEMPEROS À ITALIANA
Semana passada, tive a oportunidade
de conhecer um verdadeiro homem do nosso século, muito embora o taxonomista
Lineu talvez o tivesse classificado como um raro espécime já extinto do século
dezenove, dado seu traje irretorquível, sua aparência hirsuta de Rattus
Norvegius e seu nome inusitado – Fiordemundo Hyppolito – que se apesentava ao
lado da suculenta esposa, a jovem e frívola Calcedônia.
Conheci Fiordemundo como se por acaso, numa disputa de mesas na famosa cantina
do Carlino, como sempre lotada, onde como sempre, após um ligeiro flerte com a
sua jovem esposa, que sorria à Cardinale, e as costumeiras gentilezas – “por
favor… por favor…”, e acabamos sentados juntos à mesma mesa.
Começamos por tragar uma fortíssima grappa para depois ordenarmos um poderoso
Valpolicella Bolla safra 1988 e fetuccini com polpetas com molho de funghi secchi,
e direito a antepasto à base de miolo de alcachofra.
Eu havia saído de casa naquele dia disposto a degustar as artes culinárias e os
molhos ensandecidos que contribuíram para a alegria e o colesterol dos meus
antepassados – o avô suspirava à mera menção de uma spaghettata al vongole e
pomodoro, o vinho tinto, a mesa farta, a salada regada ao azeite, oregano,
vinagre de vinho e pimenta calabresa e o pão redondo cortado em fatias no seio
da avó com uma faca de assustar perdigueiros.
(Na caminhada em direção à cantina atravessei ruas e dobrei esquinas, o apetite
crescendo voraz e a boca salivando pelos pensamentos pecaminosos da gula).
(Saudades de um domingo repleto de delícias italianas
ao lado de um casal singular)
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