PÁGINAS
ESCOLHIDAS
De um livro de contos ainda não publicado
(Augusto Pellegrini)
DESVENTURAS DE UM FIM DE TARDE
Parmênio,
bêbado como um peru de véspera de Natal, não viu o poste com a placa na calçada
da praia – meio invisível no lusco-fusco das seis da tarde – e quase se rachou
ao meio.
A placa advertia os banhistas sobre o perigo da maré alta no local, pois sua
baixa repentina podia carregar mar adentro algum banhista descuidado, sugando o
aventureiro com muita força para o centro do oceano.
Irritado com o trompaço no poste da placa, Parmênio começou a lhe dirigir
impropérios e parece que ficou ainda mais irritado com a sua mudez, pra não
dizer desfaçatez.
Zé Maria, em solidariedade ao companheiro, cismou que a placa estava no lugar
errado, pois, raciocinava ele, ali não havia banhistas em perigo. A placa devia
ter sido colocada na areia, não na calçada. Ato contínuo, deu um belo safanão com
a mão na chapa de metal que, provavelmente indignada com a sua atitude,
provocou-lhe um corte no dedo.
Parmênio e Zé Maria se zangaram ainda mais e começaram então a agredir o poste
a pontapés como se estivessem enfrentando um adversário numa briga de rua.
A cada chute uma dor, e a cada dor a raiva aumentando.
À distância, o garçom do Bar do Ernesto e o próprio Ernesto a tudo assistiam
impassíveis, e viram quando a viatura da polícia chegou e dois meganhas truculentos
pegaram os dois amigos com a facilidade de quem carrega uma trouxa de roupa e
os jogaram no banco de trás.
Sem mais delongas, o carro partiu em disparada, os pneus gemendo em uníssono
com os gemidos dos dois senhores embriagados, que finalmente se deram conta da
encrenca em que se haviam metido e começaram a sentir os hematomas e os cortes
causados por tão rocambolesco episódio.
Doíam-lhes as mãos, os pés e a consciência.
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