PÁGINAS
ESCOLHIDAS
Extraído de um livro de contos que ainda não foi publicado
(Augusto Pellegrini)
O CONTADOR DE HISTÓRIAS
No
número 341 da Rua da Misericórdia há uma placa que serve de chamariz e
indicativo para a cura de problemas – PROFESSOR GALBA – e em letras menores – QUALQUER
QUE SEJA O SEU PROBLEMA, ELE SERÁ RESOLVIDO.
Este
professor, cujo verdadeiro nome é Dorindo Farik Galbarini, filho de pai siciliano
e de mãe libanesa, já havia ganhado a vida trabalhando como auxiliar de açougueiro,
porteiro de prédio e vendedor de livros, até que aprendeu a lidar com a força
das palavras.
Magro,
calvo e muito tranquilo, ele passa a impressão de ser um monge tibetano, o que
nada tem a ver com sua descendência árabe-italiana.
Dorindo
se utiliza de um método insólito e invulgar de curar problemas, sejam eles de
ordem psicológica, familiar, amorosa, profissional, financeira ou mesmo de
saúde: ele conta histórias aos seus pacientes.
Estimulado
pelas suas raízes libanesas e pelas proezas de Sherazade, que contando
histórias por mil e uma noites seguidas salvou a própria vida e curou o rei
Xeriar da loucura e do ódio pelas virgens as quais desposava, Dorindo formulou
um estratagema pseudocientífico que consistia em fazer o paciente reconhecer e curar
certas fobias – que no seu modo leigo de entender eram responsáveis por todo
tipo de moléstia física ou mental que alguém pudesse ter – fazendo o cliente ingressar
num mundo de fantasia onde ele se identificava com determinado personagem e
mudava a sua atitude em relação aos medos e à vida. O comportamento do paciente
era modificado de tal forma que se transformava numa porta aberta para o
sucesso, mesmo com respeito ao lado profissional e financeiro. Como se vê, um
psicoterapeuta moderno, embora sem diploma nem mestrado.
O
professor recebe o paciente e o conduz a uma saleta banhada por uma luz minúscula,
se acomoda em uma confortável poltrona ao som quase imperceptível de uma dessas
músicas utilizadas em terapias de meditação – canto de pássaros, sons do mar, farfalhar
de folhas, música para a alma, ou o que mais se queira – e pede que ele conte detalhadamente
o seu drama. O professor ouve atenta e pacientemente, somente interrompendo se
e quando absolutamente necessário.
Enquanto
toma consciência do problema, Dorindo – agora transformado em professor Galba –
começa a rebuscar no arquivo inesgotável do seu cérebro uma história que realmente convenha para o caso.
Decisão
tomada, a história é contada numa voz grave e pausada, com ares de dramaturgia,
envolvendo o paciente numa aura de misticismo hipnótico.
Tiro
e queda.
Depois
de cinco ou seis sessões o paciente estará curado. Satisfação garantida ou seu
dinheiro de volta.
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