Do
livro À NOITE, TODOS OS GATOS (1998)
(Augusto Pellegrini)
O
PORCO
Doutor Calixto, advogado, se sentia todo importante,
envaidecido como um pavão.
- Eu não disse a você, Radamés, eu não disse a você para confiar no meu
trabalho? (enquanto Vivaldo Perequê e seu advogado – parte derrotada no
julgamento – desciam cabisbaixos a escadaria do Fórum).
Radamés Plutarco, a quem o juiz havia dado ganho de causa retrucou:
- Às vezes as coisas não acontecem naturalmente, doutor Calixto, e a gente tem que
dar um empurrãozinho por fora…
- Como assim, “um empurrãozinho”, Radamés, como assim?
- Bem, doutor, não foi propriamente pelo seu trabalho que a gente ganhou a
causa, mas pelo meu presente.
- Presente?! Que presente?! Presente para quem, Radamés?!
- Um porco, doutor Calixto, um porco…
- Um porco? Quer dizer que você deu um porco de presente, Radamés?
- Eu dei um porquinho rosado de presente para o doutor Pompílio de Taques, o
juiz que iria julgar o caso, sabendo que ele adora a vida do campo e tem seus
bichinhos numa fazenda.
- Não pode ser, Radamés, não pode ser. Não vou acreditar que o doutor Pompílio
iria se vender por um porquinho rosado.
- Nem eu iria acreditar nisso, doutor, depois que o senhor me garantiu que ele
era incorruptível…
- E então?! Que diabo de história de “presente” é essa? – exasperou-se o
advogado.
- Bem, eu mandei um porquinho todo cor de rosa de presente pro doutor Pompílio
de Taques, dentro do maior respeito, com um cartãozinho preso a uma fita
amarrada ao pescoço do bicho…
- E então?!
- E então, o cartãozinho dizia que “este é um presente da parte de Vivaldo
Perequê, por recomendação do seu advogado”…
(Medida cautelar em última instância)
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