Um atleta é um atleta, um intelectual é um intelectual. Não se exige que um intelectual seja um super-homem estabelecendo marcas esportivas nem que um atleta seja um filósofo ou pensador.
Mas assim como é saudável a um intelectual abandonar os seus livros de vez em quando e executar alguma prática esportiva, é bastante proveitoso que um atleta de vez em quando beba alguma dose de cultura.
Já vi muito intelectual andando de bicicleta, nadando e até jogando bola, mas nunca soube de um jogador lendo os clássicos, por exemplo, isso pra não forçar muito a barra.
O que o artigo abaixo descrito (publicado no dia 13 de junho de 2011 no Caderno E do jornal O Estado do Maranhão) coloca em discussão não é a mania de os jogadores de futebol inovarem no seu corte de cabelo – coisa que há séculos os jovens o fazem, não apenas jogadores, mas também intelectuais de vanguarda e músicos, de uma forma geral, pois é evidente que o que está do lado de fora da cabeça não necessariamente retrata o que existe do lado de dentro.
O que o artigo visa espicaçar é o baixo nível intelectual da grande maioria dos jogadores de futebol, evidenciado nos estilos musicais de sua preferência, no lazer praticado, no “modus vivendi” e no vazio enorme que suas entrevistas ou declarações transmitem.
Eles não sabem sequer valorizar a própria história.
Na malfadada era Dunga, um repórter comentou com um dos milionários jogadores selecionados sobre Nilton Santos (uma das lendas do futebol entre 1948 e 1964, bicampeão mundial e alcunhado como “Enciclopédia”) e teve como resposta “já ouvi falar, mas não sei quem é...
Algum dia escreverei sobre o baixo nível atlético dos intelectuais, mas isto é um outro assunto.
Por estranho que pareça, o artigo de hoje vai falar sobre... cabelo!
Talvez o mote principal não devesse ser cabelo, mas cabeça, que nos jogadores de futebol é muito mais usada para expor o que vai do lado de fora do que para mostrar alguma coisa que porventura exista do lado de dentro. O tema mais correto então talvez fosse “cabeça oca”.
Já disseram que cabeça não foi inventada apenas pra usar chapéu. Como o chapéu está fora de moda, e o boné – seu substituto – não freqüenta as cabeças como possivelmente desejaria, os donos das cabeças criaram um adereço de certa forma natural para diferenciá-los do mundo profano que os cerca, produzindo tranças, miçangas, rabos-de-cavalo e, ultimamente, cortes e formatos esquisitos, que fazem do visual do jogador alguma coisa semelhante a um ser de outros planetas.
Existem no mundo do futebol cabeças vazias que raciocinam apenas na hora do jogo, cinestesicamente, mecanicamente. Alguns atletas também usam a cabeça propriamente dita para fazer gols, provocando a alegria e histeria coletiva, pouco interessando ao torcedor o que o dono da cabeça tem dentro dela.
É sabido que, com raras, raríssimas exceções, jogador de futebol é um tipo de indivíduo que não se classifica pela cultura nem pela contra-cultura, mas sim pela inexistência de cultura. Ele se dedica ao pagode, forró e baile funk, adora colecionar carrões para carregar os amigos de infância e gosta de exibir Marias-chuteiras que sempre lhes dão dor de cabeça e planejam golpes visando arrancar o seu dinheiro. Nas horas vagas, eles não lêem nem estudam (não há razão pra isso, pois já faturam uma pequena fortuna sem ter que usar o intelecto) e jogam vídeo game.
Para a parte esclarecida da população, eles não passam de agentes do lazer. Ninguém convidaria um jogador de futebol para um debate sério acerca de problemas sérios, pois as suas cabeças não possuem os mecanismos necessários para processar as idéias, por simples que sejam.
Mas de repente o mote passa a ser realmente “cabelo”, ou a falta dele.
Há uma década, a moda era raspar o couro cabeludo, alguns para compensar a carência capilar natural, outros para fazer charme – exemplo de Ronaldo e Roberto Carlos.
A moda pegou e ainda hoje aqueles que abraçaram a causa continuam passando a navalha no cocuruto para imitar os seus ídolos.
Após um breve interregno, onde jogadores com cara de mau – por coincidência todos volantes – inauguraram a era moicana, surgiu Neymar, o novo imperador da moda.
E aí o seu penteado, uma mistura de moicano, mandril e pica-pau, tomou conta do jet-set e contaminou pelo menos meia dúzia de meninos da Vila mais um bocado de pretendentes a Neymar, que tirando o belo futebol que possui em nada acrescenta em termos de modelo para a juventude.
Então todo jogador começou a perceber, ou pelo menos a imaginar, que a fórmula do sucesso não estava nos pés e sim na cabeça, ou melhor, no cabelo.
A última novidade foi apresentada por Robinho, que no entanto chegou com dez anos de atraso.
4 comentários:
Genial, Mestre!
Mas Sócrates, o querido Doutor, honrava o nome de filósofo e quando desembarcou em Florença, para jogar na Fiorentina na década de 80, trazia nas mãos nada menos que o clássico Crítica da razão pura, de Kant!!!!
Também podemos citar o Ronaldo com cortes de cabelo exóticos, como o tipo cascão ou escovinha, mas que não falava besteiras nem em campo nem fora dele. É verdade que em matéria de filosofia ele fica quieto no Kant dele.
Bem, mestre, Érico já citou o Dr. Socrates. Lembro agora também do Dr Tostão, que, apesar de valer um montão por seu futebol e classe, apenas serve, miseravelmente, para confirmar a regra do embotamento mental da raça. Por aqui no Maranhão, não me ocorreu nenhum caso. Nenhum lord Nhozinhista. A propósito, quando sai o artigo sobre Canhoteiro?
Um abraço!
Tostão, Dr. Sócrates? Isso foi do mesozóico à Grécia Antiga.
Vão-se as cabeças, ficam os tufos.
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