SAUDAÇÕES AO
NEW-MARACANÃ
Quando
da realização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, o Rio de Janeiro foi brindado
com um estádio poliesportivo zero quilômetro, batizado com o grandiloquente
nome de Estádio Olímpico João Havelange, popularmente conhecido como Engenhão.
Como
a cidade já possuía o Maracanã, o Engenhão foi construído mais para abrigar as
modalidades de atletismo do que para servir de palco para o futebol (lá seriam
disputadas apenas quatro partidas pela competição).
O
estádio foi erigido para acomodar mais de 46 mil pessoas sentadas, com a
possibilidade de ser ampliado para 60 mil ocupantes tendo em vista 2016, e era
considerado o mais bonito e moderno da América Latina. Custou aproximadamente 400 milhões de reais, uma
ninharia, se comparado com o custo do ainda não acabado estádio do Corinthians,
estimado em quase um bilhão (mas este é um assunto que fica para uma próxima
vez).
Construído
com recursos públicos, o Engenhão foi posteriormente arrendado para o Botafogo,
e apesar da distância do centro nervoso do Rio de Janeiro acabou servindo para
a realização de muitos jogos. Desde o fim de março deste ano, no entanto, está
interditado por problemas na futurista cobertura, com risco real de desabamento,
de acordo com os laudos.
Agora
que a cidade já pode contar com o New-Maracanã, não há previsão de quando serão
iniciados os serviços de reforma, e como ninguém tem pressa, o Botafogo voltou
a ficar sem casa.
O
New-Maracanã tem uma história a ser contada.
O
Maracanã é um estádio com 63 anos de idade que já havia sofrido duas grandes
reformas (em 1999 e 2007), mas manteve as características do projeto
arquitetônico inicial. Para a Copa do Mundo, ele poderia ser simplesmente
adaptado às necessidades da Fifa, mas foi posto literalmente abaixo e teve a
sua arquitetura – um dos cartões postais do Rio de Janeiro – brutalmente
violentada.
O
custo total das três reformas atinge a casa dos 2,4 bilhões, transformando-o em
um dos seis estádios mais caros do mundo.
Quando
foi imposto o tal padrão Fifa, a astúcia e o engenho humano se colocaram em
campo para que muita gente ganhasse muito dinheiro, mesmo que isso custasse o
esfacelamento de outros complexos esportivos e uma desapropriação desumana de
áreas habitadas e de marcos históricos.
Depois
de pronto, o New-Maracanã ficou bonito e fashion
como uma obra de exposição, mas perdeu o glamour e a identidade.
Pior,
o estádio foi praticamente dado de presente para um consórcio de empreiteiras e
investidores que não colocaram um centavo na sua construção e vão se beneficiar
das benesses do seu funcionamento, através de uma licitação que se denuncia
viciada e preparada para atender interesses aparentemente escusos que passam
pelos Governos Estadual e Municipal e por empresas que garantem a campanha
eleitoral de alguns políticos da Cidade Maravilhosa.
Como
o Vasco tem São Januário e o Botafogo – em tese – tem o Engenhão, a
lucratividade do Consórcio vai depender dos contratos feitos com o Flamengo e o
Fluminense, mas os termos são desvantajosos para os clubes, que começam a
espernear.
O
Flamengo está inclusive disposto a levar seus jogos para Brasília, apesar do
custo e da logística, ou para Juiz de Fora, e o Fluminense reluta em assinar o
contrato, se contentando em jogar em Volta Redonda.
Por
outro lado, entidades e manifestantes pedem o fim da concessão e querem que o
estádio seja operacionalizado pela Prefeitura, segundo o aforismo “quem pariu
Mateus que o embale”. Há ainda muita história para ser contada.
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