TÉCNICOS NA CONTRAMÃO
A
surpresa veio a galope, no lombo da virada – quase uma goleada – que o Flamengo
sofreu na quarta-feira diante do Atlético Paranaense, em pleno Maracanã.
Jogo
acabado, torcida vaiando, jogadores cabisbaixos (afinal, como explicar um placar
de 2x0 se transformar em 2x4?), e lá vai Mano Menezes, altivo e circunspecto,
em direção ao vestiário, olhar fixo em algum ponto do futuro, passando pelos
repórteres como se eles não existissem, e deixando antever que alguma coisa
iria logo mais saltar para fora dos eixos.
Horas
mais tarde, dentro da sua habitual arrogância, Menezes declarou que estava
demissionário, com uma voz grave e uma expressão de pensador estampada no rosto,
e adiantou que o motivo seria “porque os jogadores não assimilam as minhas
instruções, razão pela qual o time não mostra padrão de jogo e não deslancha no
campeonato”.
Quer
dizer, Mano é daqueles técnicos do time do “eu ganho, nós empatamos e eles
perdem”.
Ocorre
que quando o mestre não ensina corretamente os alunos têm problemas de
assimilação, e este pode ser um dos segredos da falta de resultados do Flamengo
de Mano Menezes.
Os
jogadores com certeza não estavam acomodados, e tudo indica que o professor não
utilizou técnicas de motivação, não usou a metodologia correta, não praticou o
treinamento necessário nem soube interagir com o grupo, e isto parece resumir a
caminhada quase inglória do técnico pelo rubro-negro.
Eu
sempre critiquei Mano Menezes, principalmente por ocasião da sua melancólica passagem
pela seleção brasileira, exatamente por essa postura autocrática e despótica,
que o mantém distante tanto dos jogadores como da imprensa. Ele passa a
impressão que o mundo nada mais é do que um conglomerado de ignorantes que não
conseguem captar as mensagens brilhantes da sua inteligência privilegiada.
No
Flamengo a coisa foi um pouco pior. Mesmo sem contar com material humano de
primeira, ele poderia ter dado mais consistência ao time se não tivesse se
equivocado tanto, na escalação, nas instruções e nas substituições.
Como
bem lembrou o jornalista Lúcio de Castro, da ESPN, a forma como Mano Menezes
abandonou o barco do Flamengo à deriva é semelhante à atitude do capitão
Francesco Schettino, do Costa Concórdia, que tombou na costa italiana há 1 ano
e 8 meses: sorrateira, arbitrária e covarde.
O
rubro-negro não vai deixar barato: pela irresponsabilidade da sua decisão
unilateral, o agora ex-técnico vai ter que indenizar o clube com cerca de 800
mil reais, o mesmo valor que o clube teria que pagar se o tivesse demitido.
Dentro
do aperto atual do Flamengo, quem assume o seu lugar é o auxiliar Jayme de
Almeida Filho, ex-jogador, flamenguista da cepa, e filho do também ex-jogador Jayme
de Almeida, que vai tentar injetar no elenco a chama que parece faltar para
incendiar o desempenho do time.
Na
contramão de Mano Menezes, Muricy Ramalho voltou ao São Paulo para dirigir um
elenco em frangalhos, fazendo a pior campanha da sua história, e conseguiu
somar nove pontos em quatro partidas disputadas, levando a equipe no penúltimo
para o décimo-quinto lugar, o que não é muito, mas apresentou uma sensível
melhora no rendimento do grupo.
É
claro que ninguém pode prever com precisão o sucesso ou o insucesso do treinador
num campeonato tão difícil como este, mas o que está em discussão não é o desempenho
de um time, e sim o caráter e a personalidade de um treinador.
Um comentário:
O Mano Menezes sempre me deixa a impressão que o mundo não está preparado para entende-lo!
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