A convocação de Júlio
César
Todo
mundo gosta de vez em quando de brincar de técnico de futebol. O assunto chega
a ser matéria obrigatória nas mesas de botequim e nas manhãs de segunda-feira,
quando os mais experientes, depois das gozações de praxe recebidas dos
torcedores adversários, comentam as bobagens cometidas pelo técnico de plantão
e expõem as soluções óbvias para consertar a qualidade do time, incluindo aí
mudança de jogadores, alterações táticas e até – é claro – a troca do
treinador!
Todo
cidadão apaixonado por futebol tem na ponta da língua a formação ideal do time que
ele colocaria em campo, seja clube ou seleção, justificando a escolha e as
eventuais dispensas com explicações doutrinárias, táticas e filosóficas que às
vezes (ou muitas vezes) entram em confronto com o desejo de outros torcedores.
E, é claro, todo cidadão apaixonado por futebol já chamou alguma vez (ou muitas
vezes) de burro o técnico do time para o qual ele torce ou está torcendo
naquele momento, seja no estádio seja diante da TV.
A
polêmica da semana, que foi inclusive objeto de enquetes em mais de um programa
esportivo, diz respeito à convocação antecipada do goleiro Júlio César pelo
técnico Felipão para a Copa do Mundo que vai acontecer só daqui a dez meses.
Júlio
César está atualmente no banco de reservas do Queens Park Rangers, clube rebaixado
à segunda divisão do campeonato inglês, mas teve seu nome confirmado em uma
entrevista antes do jogo em que o Brasil bateu a seleção portuguesa por 3x1 em
Boston.
Visivelmente
irritado ao ser questionado sobre o problema, o técnico declarou que, “para
acabar com a frescura”, Júlio César já está convocado entre os três goleiros mesmo
sem jogar e mesmo se estiver jogando mal, porque goleiro é uma questão de
confiança. Assim, o goleiro recebeu um privilégio que nem o badalado Neymar, o
queridinho da mídia e dos torcedores, conseguiu.
A
rigor, não se conhece na história do futebol brasileiro nenhum caso de jogador
que tenha tido a sua convocação confirmada para uma competição com quase um ano
de antecedência.
É
sabido que o futebol – e aí falamos de times e de jogadores – obedece a ciclos
e varia como a maré. O Corinthians, campeão mundial em dezembro de 2012 e o
Atlético Mineiro, campeão da Libertadores deste ano, são exemplos recentes de equipes
que encantaram os torcedores e caíram sensivelmente de produção num espaço de
seis meses.
O
craque Lucas, vendido pelo São Paulo ao PSG, foi figura obrigatória nas
convocações de Mano Menezes, mas começa a perder espaço com Felipão e no time
francês. O mesmo acontece com Leandro Damião, que enfrenta seu inferno astral
dentro do próprio Internacional. Mas nada tão sério que não possa fazê-los se
reerguer.
São
incontáveis as histórias desta gangorra, o que faz com que o técnico prudente
jamais aposte todas as suas fichas em um determinado jogador com tamanha antecipação.
Ganso
já chegou a ser melhor que Neymar, Diego era melhor que Robinho, e ambos acabaram
não resultando no que se esperava em termos de seleção brasileira. Esperanças
como Lulinha, Kerlon – o “foquinha” –, Lenny, Keirrison e William José fizeram
água e desapontaram técnicos e torcedores, quando todos apostavam as suas fichas
num futuro promissor.
Tudo
bem, Júlio César não é nenhuma promessa, já é um jogador rodado, etcetera e tal,
mas somente um visionário pragmático como Felipão para ter tanta certeza que a
conquista do hexacampeonato vai depender dos pés (e das mãos) deste afortunado goleiro.
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