VERDE QUE TE QUERO VERDE
Foi
com certeza atendendo aos rogos da Federação Amazonense de Futebol, não à verve
poética de Federico Garcia Lorca como poderia supor o leitor mais erudito, que a
CBF instituiu a Copa Verde, torneio tipo mata-mata que será realizado a cada
ano nos meses de janeiro e fevereiro a partir de 2014.
Como
o seu nome indica, o torneio visa oxigenar os clubes dos estados esportivamente
carentes da Amazônia, com a inclusão de times do Brasil Central (onde o verde é
menos verde) e do Espírito Santo, um estado que tende mais para a coloração vermelha,
com sabor de óxido de ferro.
Serão
ao todo dezesseis clubes, desde o tradicional Remo, do Pará, até o desconhecido
Oratório, do Amapá, que irão se eliminado a cada duas partidas.
O
custo da empreitada deverá ser dividido entre o Ministério dos Esportes, que aposta
em uma maior integração do futebol no Brasil, e a TV Interativa, que, talvez
por ser interativa, adquiriu a concessão de transmitir o torneio e já está à
cata de patrocinadores (dada à atual gritaria contra o mal uso de dinheiro
público, o Ministério nega que esteja participando financeiramente deste
projeto).
A
Copa Verde seguirá mesmo o modelo da Copa Nordeste, embora esta última seja uma
competição mais rentável porque agrupa estados de maior tradição futebolística
como Bahia e Pernambuco. Desta forma, considerando que o sul e o sudeste estão
bem fornidos na participação dos seus clubes no calendário nacional (tanto que
alguns clamam pelo enxugamento de torneios e campeonatos), o Brasil finalmente consegue
integrar o futebol de ponta a ponta, cobrindo nosso vasto território de 8,5
milhões de quilômetros quadrados, o quinto maior do mundo, desde o Monte
Caburaí, no Roraima, até o Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, e desde a
nascente do Rio Moa, no Acre, até a Ponta do Seixas, na Paraíba.
Seria
bom se esta integração fosse completa, mas a realidade é diferente.
Inexplicavelmente,
os clubes do Maranhão e do Piauí foram excluídos desta geopolítica, pois
aparentemente não foram considerados nem verdes nem nordestinos.
Não
falo pelo Piauí – igualmente discriminado – mas no nosso caso há muito tempo se
discute se o Maranhão pertenceria à região nordeste (pela proximidade
territorial com Ceará e Piauí e com a divisão estabelecida no mapa) ou à região
norte (pelas características do clima e da vegetação).
Agora
que surgiu a oportunidade de colocar as coisas nos seus devidos lugares, pelo
menos em termos de futebol, a CBF resolveu o problema usando a jurisprudência
de Salomão, que ameaçou cortar uma criança ao meio para oferecer cada parte às
duas mulheres que clamavam pela maternidade.
Para
a CBF, porém, acomodar a situação não significou nenhuma ameaça. Ela
simplesmente resolveu deixar os dois estados de fora, e estamos conversados.
O
Maranhão foi excluído porque aparentemente não se sabia onde colocá-lo, e o Piauí,
embora considerado definitivamente nordestino, também ficou a ver navios.
Cabe
aos presidentes das federações que foram colocadas à margem do calendário
nacional – respectivamente Antônio Américo Lobato Gonçalves e Cesarino Oliveira
– lutarem pelo seu direito de participar da festa como o fez o colega manauara,
pois independentemente do eventual interesse da televisão ou dos
patrocinadores, esta exclusão não tem uma justificativa lógica ou sequer moral.
Afinal,
quando falam em “verde”, as federações e a CBF se referem a simplesmente uma metáfora,
à riqueza de nossas matas (ainda verdes, embora não se saiba até quando) ou
simplesmente à forma figurada de como o vulgo se refere ao vil dinheiro?
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