AS BIOGRAFIAS E A
CENSURA FELIPENSE
Vou
discorrer sobre dois assuntos diferentes, embora de certa forma correlatos,
pois ambos tratam de uma distorção do comportamento humano. Ambos estão na
pauta do dia e fazem parte das discussões de programas televisivos, das redes
sociais e das mesas de bar.
Especialistas,
jornalistas e cidadãos de outras diversas categorias concordam e/ou discordam,
e todos têm seus argumentos para dar suporte às suas opiniões. Para mim, porém,
os dois assuntos mostram que estamos vivendo uma época de profunda indigência
moral.
Primeiro:
antigos ícones se levantam contra o direito de historiadores e biógrafos cumprirem
com o seu dever para com a humanidade, fazendo o registro histórico de fatos
referentes às vidas das pessoas que fazem a História.
Esta
indigência, que se baseia na defesa da privacidade, encontrou um paralelo no
futebol – o segundo assunto – quando um jogador praticamente desconhecido no
Brasil decidiu jogar por outro país, e teve o seu direito de escolha duramente
criticado por um sujeito que procedeu exatamente da mesma forma há exatos dez
anos.
Vou
explicar melhor.
O
primeiro parágrafo cita Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, ativistas
culturais que levantaram a bandeira contra a censura e pela liberdade de
expressão durante a época da ditadura militar. Não menciono Roberto Carlos
neste pacote porque este sempre foi um alienado oportunista.
Estes
senhores acompanharam o parecer do Rei da Juventude e buscam proibir na justiça
qualquer biografia que não tenha a autorização do biografado.
De
acordo com o biógrafo e cronista Ruy Castro, biografias autorizadas, se
consideradas em conjunto, mascaram a verdade, adulteram o espírito real de uma época
e transformam história em mentira literária.
O
que conhecemos da história do mundo, do ser humano e das suas idiossincrasias
sociais muito se deve ao que conhecemos dos personagens que fizeram a história
– artistas, políticos, filósofos, conquistadores - cujas biografias não
autorizadas nos dão a dimensão exata da sua participação na evolução do mundo.
Se
Alexandre, Napoleão, Hitler, Einstein ou Charlie Chaplin tivessem escrito suas
próprias histórias nós conheceríamos apenas uma parte das suas vidas.
O
segundo parágrafo deste artigo fala sobre Luiz Felipe Scolari, técnico da nossa
seleção. Este senhor é o mesmo que pediu dispensa da seleção brasileira após a
conquista da Copa de 2002 para treinar Portugal em 2003. Lembre-se que Portugal
poderia vir a ser adversário do Brasil na Copa de 2006, o que não aconteceu por
mero detalhe.
Além
disso, Felipão convenceu o brasileiro Deco (e depois Pepe, em 2007) a se
nacionalizarem portugueses, e jamais passou pela sua cabeça que qualquer um
deles pudesse ser taxado de antipatriota ou inimigo do Brasil.
É
portanto bastante estranho e lamentável que Felipão, com este passado
recente, faça a montagem dessa encenação
teatral – talvez para fazer média com os patrões da CBF – denunciando Diego
Costa por ter se nacionalizado espanhol e “virado as costas para o seu país”.
Felipão
convocou Diego para a Copa das Confederações, mas não lhe deu a menor chance e
deixou bem claro que o jogador estava fora dos seus futuros planos. Esta
pretensa convocação para os amistosos contra Honduras e Chile foi apenas um
factoide necessário para desestabilizar o atleta, exaltar a CBF e criar um
clima antagônico contra a Espanha.
Não
se sabe se a seleção brasileira consegue inocular nos seus treinadores o vírus
da arrogância e da falta de respeito ou se eles são escolhidos para o cargo
exatamente por possuírem este perfil.
Um comentário:
A censura somente nos faz mal e se hoje nada sabemos sobre Tiradentes isso é graças à censura que se impôs a ele. Quanto ao futebol não foi só o Felipão que cometeu barbaridade nesse assunto, um tal diretor da CBF também falou o que não devia. Mas só o Felipão praticou o faça o que eu digo mas não faça o que eu faço!
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