segunda-feira, 9 de dezembro de 2013


 A FIFA CONTRA-ATACA

 

Jerome Valcke, Secretário Geral da Fifa, voltou ao Brasil com a corda toda.
Antes de conduzir a chatíssima cerimônia de sorteio dos grupos, ele concedeu uma entrevista que entrou em choque com a postura politicamente correta do seu chefe Joseph Blatter.
Blatter vem ultimamente se preocupando em elogiar o Brasil e está engrossando a corrente patriótica do Comitê Organizador local, buscando convencer o povo em manifestação a curtir as férias de junho-julho aplaudindo o futebol e deixando o quebra-quebra e o inconformismo para a época das eleições – isso ele não disse, mas deixou implícito.
Recentemente, em julho, Blatter chegou a derrapar ao dizer que “a entidade pode ter se equivocado ao escolher o Brasil como sede da Copa 2014”, mas agora, prudentemente, revê o seu discurso.
Mas, se Blatter procura fazer o jogo do contente, Valke passou com o seu trator em cima do protocolo e da diplomacia ao defender a Fifa das acusações que lhe são imputadas, principalmente aquelas referentes aos gastos exagerados com a Copa.
Ele declarou para quem quisesse ouvir que a Fifa não pode ser culpada pelos problemas de educação, saúde e transporte público e que, portanto, as manifestações não devem ser dirigidas contra a entidade. Acrescentou que ela não pode ser responsabilizada pelo atraso social do país. “Este recado é para os políticos brasileiros”, disse ele.
Ele também declarou que nunca houve a exigência por parte da Fifa de que a Copa fosse disputada em 12 sedes nem que novos estádios fossem construídos.  Valke confirmou que a exigência era simplesmente a escolha de 10 sedes e a reforma necessária para adequação dos estádios existentes aos padrões da Copa, além dos detalhes comerciais de praxe.
De acordo com o Secretário, a ideia de aumentar o número de cidades-sede, de derrubar o Maracanã e de construir estádios novos onde talvez não houvesse necessidade partiu dos ex-presidentes Lula – do Brasil – e Ricardo Teixeira – da CBF. Desta forma, a Fifa não aceita que lhe seja imputada responsabilidade pelo gasto excessivo de dinheiro público na obras da Copa ao invés de investir em escolas, hospitais, saneamento e mobilidade urbana.
É bom lembrar que em março de 2012, Valcke já havia jogado pesado por causa da morosidade do andamento das obras – “As coisas não estão funcionando. Muitas coisas estão atrasadas. O Brasil merece um chute no traseiro” – o que gerou uma pronta reação de Aldo Rebelo, Ministro dos Esportes, que ameaçou pedir a sua substituição no Comitê Organizador e proibir a sua entrada no país.
Enquanto Valcke morde, Blatter assopra e exerce o papel de um homem de relações públicas a serviço do Brasil.
No sorteio dos grupos ele apareceu apenas no início da cerimônia e se mostrou claramente mais preocupado em aparar arestas do que em aproveitar o deslumbramento da ocasião, fazendo um discurso previsível no qual exortou o patriotismo do povo brasileiro, a nossa costumeira hospitalidade e a paixão pelo futebol.
Foi, no entanto, mais objetivo do que a presidente Dilma, que timidamente tartamudeou o óbvio, como é do seu feitio sempre que se vê obrigada a improvisar um discurso.
Falha da organização, que poderia tê-la feito ler um texto redigido por um profissional da sua assessoria, o que não chegaria a afrontar com a informalidade do evento, mas daria um toque de legitimidade e poderia mostrar para os olhos do mundo que o Brasil é, sim, um país sério. 

                                                                                                

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