segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014


 

 

O bom senso e o Bom Senso

 

Os campeonatos regionais começaram de vento em popa, como aperitivo do ano esportivo que vem por aí, mas o Paulistão estava na iminência de sofrer uma greve geral. Depois de muitas marchas e contramarchas a propalada paralização acabou ficando só na ameaça.
A ameaça serviu apenas para o Bom Senso F.C. agitar o cenário neste início de ano, depois que suas reivindicações iniciais no ano passado foram solenemente ignoradas pela CBF e pelas federações.
Afinal, a CBF tem motivos de sobra para desconversar e empurrar com a barriga as propostas de Paulo André e Cia. num ano em que ela terá eleições em abril e uma Copa do Mundo em junho. Considere-se ainda a possibilidade de a Justiça intervir no Campeonato Brasileiro.
De qualquer forma, apesar de ser justa a grita do Bom Senso em desagravo às constantes transgressões das torcidas organizadas e das brigas dentro dos estádios, a associação não nasceu por causa disso e sim pela necessidade de um calendário mais humano que não exija tanto dos jogadores.
Por isso, as razões que levariam à paralização do Paulistão neste exato momento não tinham muita consistência, pois o que aconteceu foi uma atitude isolada que nada tinha a ver com problemas de jogadores com o calendário.
O caso foi localizado, não teve a participação de torcidas adversárias nem aconteceu durante uma partida: o Centro de Treinamento do Corinthians foi invadido, jogadores e funcionários foram ameaçados – alguns chegaram a ser agredidos – a polícia mais uma vez não fez nada, a diretoria do clube é omissa e a lei continua agindo no banho-maria em fogo baixo.
O fato é grave, e já aconteceu no passado com Palmeiras, Flamengo, Cruzeiro e com o próprio Corinthians, mas não seria uma paralização de protesto que iria mudar o panorama.
A paralização de uma rodada ou mesmo do campeonato inteiro não iria alterar significativamente este estado de coisas, e as torcidas teriam até mais motivos para vandalizar as sedes e a propriedade dos clubes, dirigentes e jogadores, como represália.
Além disso, existem compromissos comerciais com a televisão que banca o espetáculo, com os patrocinadores que ajudam a contratar e a pagar os jogadores e também um compromisso afetivo com o torcedor que vai ao estádio para ver o seu time jogar, na chuva ou no sol, fazendo frio ou calor, seja dia ou noite.
Por isso, faltou bom senso ao Bom Senso F.C. ao arquitetar a ideia. Por causa disso, ao associação acabou rachando.
O Sindicato dos Atletas comprou a ideia, mas teve o bom senso de minimizar o problema, pois apesar de falar grosso e exigir providências, concordou que os jogos fossem realizados “sob protesto e em estado de greve”.
Bom senso por bom senso, os clubes do interior não se sensibilizaram com a possibilidade de parar de jogar e de arrecadar para pagar as despesas com seus elencos.
Também, as pessoas de bom senso perceberam claramente que este era um problema localizado que deveria ser resolvido especificamente pelo Corinthians, seja através de meios diplomáticos, seja através de ações legais.
Afinal, uma paralização a esta altura do campeonato – sem trocadilho – viria beneficiar apenas o clube mosqueteiro, que vinha de quatro derrotas seguidas e precisava de tempo para se refazer.
Existe realmente a necessidade de uma mobilização séria, mas esta mobilização deve partir da própria CBF e das federações estaduais, na tentativa de exigir do poder constituído condições para que o futebol – paixão maior do cidadão brasileiro – volte a ser disputado dando aos atletas, às instituições a ao público as devidas condições de segurança.
E que os clubes deixem de financiar e proteger os malfeitores.

                                                                                                

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