O bom senso e o Bom
Senso
Os
campeonatos regionais começaram de vento em popa, como aperitivo do ano
esportivo que vem por aí, mas o Paulistão estava na iminência de sofrer uma
greve geral. Depois de muitas marchas e contramarchas a propalada paralização acabou
ficando só na ameaça.
A
ameaça serviu apenas para o Bom Senso F.C. agitar o cenário neste início de
ano, depois que suas reivindicações iniciais no ano passado foram solenemente
ignoradas pela CBF e pelas federações.
Afinal,
a CBF tem motivos de sobra para desconversar e empurrar com a barriga as
propostas de Paulo André e Cia. num ano em que ela terá eleições em abril e uma
Copa do Mundo em junho. Considere-se ainda a possibilidade de a Justiça intervir
no Campeonato Brasileiro.
De
qualquer forma, apesar de ser justa a grita do Bom Senso em desagravo às
constantes transgressões das torcidas organizadas e das brigas dentro dos
estádios, a associação não nasceu por causa disso e sim pela necessidade de um calendário
mais humano que não exija tanto dos jogadores.
Por
isso, as razões que levariam à paralização do Paulistão neste exato momento não
tinham muita consistência, pois o que aconteceu foi uma atitude isolada que
nada tinha a ver com problemas de jogadores com o calendário.
O
caso foi localizado, não teve a participação de torcidas adversárias nem
aconteceu durante uma partida: o Centro de Treinamento do Corinthians foi
invadido, jogadores e funcionários foram ameaçados – alguns chegaram a ser
agredidos – a polícia mais uma vez não fez nada, a diretoria do clube é omissa
e a lei continua agindo no banho-maria em fogo baixo.
O
fato é grave, e já aconteceu no passado com Palmeiras, Flamengo, Cruzeiro e com
o próprio Corinthians, mas não seria uma paralização de protesto que iria mudar
o panorama.
A
paralização de uma rodada ou mesmo do campeonato inteiro não iria alterar
significativamente este estado de coisas, e as torcidas teriam até mais motivos
para vandalizar as sedes e a propriedade dos clubes, dirigentes e jogadores,
como represália.
Além
disso, existem compromissos comerciais com a televisão que banca o espetáculo,
com os patrocinadores que ajudam a contratar e a pagar os jogadores e também um
compromisso afetivo com o torcedor que vai ao estádio para ver o seu time
jogar, na chuva ou no sol, fazendo frio ou calor, seja dia ou noite.
Por
isso, faltou bom senso ao Bom Senso F.C. ao arquitetar a ideia. Por causa disso,
ao associação acabou rachando.
O
Sindicato dos Atletas comprou a ideia, mas teve o bom senso de minimizar o
problema, pois apesar de falar grosso e exigir providências, concordou que os
jogos fossem realizados “sob protesto e em estado de greve”.
Bom
senso por bom senso, os clubes do interior não se sensibilizaram com a
possibilidade de parar de jogar e de arrecadar para pagar as despesas com seus
elencos.
Também,
as pessoas de bom senso perceberam claramente que este era um problema
localizado que deveria ser resolvido especificamente pelo Corinthians, seja
através de meios diplomáticos, seja através de ações legais.
Afinal,
uma paralização a esta altura do campeonato – sem trocadilho – viria beneficiar
apenas o clube mosqueteiro, que vinha de quatro derrotas seguidas e precisava
de tempo para se refazer.
Existe
realmente a necessidade de uma mobilização séria, mas esta mobilização deve
partir da própria CBF e das federações estaduais, na tentativa de exigir do
poder constituído condições para que o futebol – paixão maior do cidadão
brasileiro – volte a ser disputado dando aos atletas, às instituições a ao
público as devidas condições de segurança.
E
que os clubes deixem de financiar e proteger os malfeitores.
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