terça-feira, 18 de fevereiro de 2014





OUTRA VEZ, RACISMO
 

Apesar da estreia dos clubes brasileiros na fase de grupos da Copa Libertadores, o assunto que galvanizou a semana foi a abominável e inexplicável atitude de racismo demonstrada contra Tinga, jogador do Cruzeiro, por torcedores do Real Garcilaso.
Abominável porque o racismo é uma das atitudes mais rasteiras e perversas concebidas pelo comportamento humano.
É inconcebível que pessoas ainda cultivem a índole mesquinha de menosprezar outras pessoas por causa da raça ou da cor da pele. Infelizmente este procedimento parece ser atávico ao ser humano, e não tem perspectiva de mudar. Note-se que não estou falando do racismo ao negro, em particular, mas entre todas as raças, inclusive do negro contra o branco (possivelmente uma reação, mas ainda assim racismo).
Inexplicável porque numa partida de futebol onde atuaram alguns atletas mais negros ou menos negros – além de Tinga havia Dedé e Júlio Baptista – apenas o meio-campista tenha recebido tal tratamento, talvez pelo seu visual rastafári (o que enseja mais um tipo de racismo).
Inexplicável também porque a provocação não partiu de loiros finlandeses nem pálidos caucasianos, mas de peruanos, cuja população é eminentemente formada por mestiços de índios quíchuas, amazônicos e negros, com quase 15% de negros tão negros como Tinga, muitos dos quais presentes nas arquibancadas.
O fato foi devidamente explorado por toda a imprensa mundial, a Conmebol estuda as penalidades cabíveis ao clube peruano, os presidentes do Brasil e do Peru condenaram a atitude da torcida e Tinga voltou para Minas onde recebeu conforto e apoio de cruzeirenses e de rivais atleticanos.
Ao longo da história, o racismo e seus vizinhos mais próximos, como a xenofobia, a intolerância e a perseguição religiosa, têm sido responsáveis por crimes sem conta desde os relatos bíblicos, passando pelas Cruzadas, pela Inquisição e pela Segunda Guerra Mundial. O racismo gera a formação de seitas e associações, que produzem mais racismo e violência.
No atual momento, o racismo é também social, e se manifesta não apenas por meio de injúrias e provocações aos negros, mas também pelo pouco caso com que a humanidade está tratando pessoas menos favorecidas, como pobres e favelados.
Na Itália o racismo é exercido pelos povos do norte contra os do sul, a quem eles chamam de “marroquinos” (ficando então implícito outro racismo – o dos italianos com relação aos africanos).
O torcedor europeu, de uma forma geral, seja da Rússia, Alemanha, França ou Turquia, volta e meia dá demonstrações de racismo contra jogadores negros de qualquer nacionalidade – e olhem que negros e mulatos não faltam nos clubes de lá.
Mesmo entre jogadores são notórios os casos de ofensa racial, embora neste caso exista o componente do calor da competição, sendo geralmente usada na tentativa de desequilibrar emocionalmente o adversário, assim, é preciso diferenciar racismo de ofensas fortuitas.
Tudo indica que muitas vezes as ofensas racistas não tenham a finalidade que confrontar a superioridade de uma raça sobre as outras, mas sim de acender um pavio que gere nervosismo e intranquilidade. Algo assim como xingar a mãe do árbitro ou do jogador adversário.
O atual técnico do Vasco, Adilson Batista, declarou numa entrevista que o brasileiro é hipócrita, porque apesar de condenar o racismo, continua o exercendo oficialmente através das piadas de portugueses, japoneses e judeus, das ofensas desmedidas contra os argentinos e da desqualificação dos povos indígenas da América Latina, inclusive nossos próprios índios.
O assunto é uma fonte inesgotável de discussões e provavelmente jamais será resolvido.

                                                                                                 

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