OUTRA VEZ, RACISMO
Apesar
da estreia dos clubes brasileiros na fase de grupos da Copa Libertadores, o
assunto que galvanizou a semana foi a abominável e inexplicável atitude de
racismo demonstrada contra Tinga, jogador do Cruzeiro, por torcedores do Real
Garcilaso.
Abominável
porque o racismo é uma das atitudes mais rasteiras e perversas concebidas pelo
comportamento humano.
É
inconcebível que pessoas ainda cultivem a índole mesquinha de menosprezar
outras pessoas por causa da raça ou da cor da pele. Infelizmente este
procedimento parece ser atávico ao ser humano, e não tem perspectiva de mudar.
Note-se que não estou falando do racismo ao negro, em particular, mas entre
todas as raças, inclusive do negro contra o branco (possivelmente uma reação,
mas ainda assim racismo).
Inexplicável
porque numa partida de futebol onde atuaram alguns atletas mais negros ou menos
negros – além de Tinga havia Dedé e Júlio Baptista – apenas o meio-campista
tenha recebido tal tratamento, talvez pelo seu visual rastafári (o que enseja
mais um tipo de racismo).
Inexplicável
também porque a provocação não partiu de loiros finlandeses nem pálidos
caucasianos, mas de peruanos, cuja população é eminentemente formada por
mestiços de índios quíchuas, amazônicos e negros, com quase 15% de negros tão
negros como Tinga, muitos dos quais presentes nas arquibancadas.
O
fato foi devidamente explorado por toda a imprensa mundial, a Conmebol estuda
as penalidades cabíveis ao clube peruano, os presidentes do Brasil e do Peru condenaram
a atitude da torcida e Tinga voltou para Minas onde recebeu conforto e apoio de
cruzeirenses e de rivais atleticanos.
Ao
longo da história, o racismo e seus vizinhos mais próximos, como a xenofobia, a
intolerância e a perseguição religiosa, têm sido responsáveis por crimes sem
conta desde os relatos bíblicos, passando pelas Cruzadas, pela Inquisição e
pela Segunda Guerra Mundial. O racismo gera a formação de seitas e associações,
que produzem mais racismo e violência.
No
atual momento, o racismo é também social, e se manifesta não apenas por meio de
injúrias e provocações aos negros, mas também pelo pouco caso com que a
humanidade está tratando pessoas menos favorecidas, como pobres e favelados.
Na
Itália o racismo é exercido pelos povos do norte contra os do sul, a quem eles
chamam de “marroquinos” (ficando então implícito outro racismo – o dos
italianos com relação aos africanos).
O
torcedor europeu, de uma forma geral, seja da Rússia, Alemanha, França ou
Turquia, volta e meia dá demonstrações de racismo contra jogadores negros de
qualquer nacionalidade – e olhem que negros e mulatos não faltam nos clubes de
lá.
Mesmo
entre jogadores são notórios os casos de ofensa racial, embora neste caso
exista o componente do calor da competição, sendo geralmente usada na tentativa
de desequilibrar emocionalmente o adversário, assim, é preciso diferenciar
racismo de ofensas fortuitas.
Tudo
indica que muitas vezes as ofensas racistas não tenham a finalidade que
confrontar a superioridade de uma raça sobre as outras, mas sim de acender um
pavio que gere nervosismo e intranquilidade. Algo assim como xingar a mãe do árbitro
ou do jogador adversário.
O
atual técnico do Vasco, Adilson Batista, declarou numa entrevista que o
brasileiro é hipócrita, porque apesar de condenar o racismo, continua o exercendo
oficialmente através das piadas de portugueses, japoneses e judeus, das ofensas
desmedidas contra os argentinos e da desqualificação dos povos indígenas da América
Latina, inclusive nossos próprios índios.
O
assunto é uma fonte inesgotável de discussões e provavelmente jamais será resolvido.
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