CRAQUES E COADJUVANTES
A
seleção brasileira de 1958 é considerada uma das melhores da história. No
entanto, o time não era formado apenas por craques, pois mesmo os grandes
vencedores têm um jogador aqui ou ali que, de uma forma geral, completam o
elenco com dignidade, mas preferem deixar o brilho para outros.
É
claro que ninguém está sugerindo que grandes formações estejam repletas de
“cabeças de bagre”, mas é natural que exista um certo desnível técnico entre
jogadores do mesmo time, e que este desnível seja compensado por aquilo que
chamamos de conjunto e eficiência.
A
seleção de 1958 saiu do Brasil um tanto desacreditada, mas foi se ajustando,
foi engrenando, mesclou um futebol de competição com um futebol de espetáculo e
acabou trazendo a Copa Jules Rimet (a primeira de uma série de cinco Copas do
Mundo) para a estante de troféus da CBF, na época CBD.
Os
jogadores mais elogiados pela imprensa mundial durante e depois do torneio foram
Nilton Santos, Didi, Garrincha e Pelé. A seleção praticava um futebol ofensivo,
fazia muitos gols (foram 16 em 6 partidas, com uma média de quase 3 gols por
jogo) e o ataque fazia jogadas de enlouquecer, carimbadas pelas fintas de Garrincha,
pela elegância e acertos de passe de Didi e pelas coisas inesperadas que o
garoto Pelé fazia.
E
a defesa tomou apenas 4 gols, todos eles nas duas partidas finais (média de 0,6
gols por jogo), com uma firmeza que simplesmente não deixava os adversários
chegar às redes.
Ela
era formada por Gilmar, De Sordi (Djalma Santos na final), Bellini, Orlando e
Nilton Santos. Este quinteto defensivo se desfez recentemente. Orlando morreu
em 2010. Gilmar, De Sordi, Djalma Santos e Nilton Santos se foram em 2013.
E
o último destes baluartes, Bellini, encerrou a sua carreira na vida na última
quinta-feira.
Não,
ele não era nenhum craque, e em toda a história da seleção com certeza
existiram jogadores mais refinados na sua posição. Ele não foi um Domingos da
Guia, mas também não cometeu nenhuma “domingada” (lance em que o zagueiro
tentou enfeitar, se complicou e acabou cometendo o pênalti contra a Itália que
eliminou o Brasil da Copa de 1938).
Bellini
era firme, sério, comprometido, garantia a defesa e dava conta do recado.
Foi
ele o capitão que inaugurou o gesto de erguer a taça com as duas mãos, pois
ninguém o havia feito nas quatro Copas anteriores, talvez por não possuírem a
sua imponência.
Nesta
seleção, nem todos eram craques, mas com certeza todos os que jogaram mostraram
um time de personalidade, que teve que enfrentar o “complexo de vira-lata”,
história inventada pelo jornalista e dramaturgo Nélson Rodrigues após as
desclassificações nas Copas de 1934 e 1938, e as acusações de “covardes”,
injustamente atribuídas à seleção de 1950, e de “amarelão”, não pela cor da
camisa, mas por ter presumivelmente “amarelado” nas duas derrotas seguidas na
primeira fase da Copa de 1966, contra a Hungria e Portugal, ambas por 3x1.
Dos
22 da Copa de 1958 ainda estão vivos Pelé (73), Mazzola (75), Moacir (77), Pepe
(79), Zito (81), Dino Sani (81) e Zagallo (82).
Apesar
de cinco vezes campeã, a seleção brasileira nem sempre teve exibições de gala –
exceto em 1958, 1970 e 1982, esta última incrivelmente perdida na semifinal.
Em
termos de clubes, o Brasil mostrou ao mundo outros esquadrões quase perfeitos
que também tinham ali e acolá um ou outro jogador que sem ser genial fazia
parte de um grupo de gênios.
O
Santos de 1960 a 1969 teve Carlos Alberto, Zito, Pelé, Coutinho, Clodoaldo e
outros bambas, mas também teve Feijó, Dalmo e alguns menos cotados.
O
mesmo se diz do Flamengo de Zico, Adílio, Andrade e Junior, que tinha no grupo os
menos talentosos, mas não menos importantes Lico e Nunes.
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