segunda-feira, 24 de março de 2014




CRAQUES E COADJUVANTES
 

A seleção brasileira de 1958 é considerada uma das melhores da história. No entanto, o time não era formado apenas por craques, pois mesmo os grandes vencedores têm um jogador aqui ou ali que, de uma forma geral, completam o elenco com dignidade, mas preferem deixar o brilho para outros.
É claro que ninguém está sugerindo que grandes formações estejam repletas de “cabeças de bagre”, mas é natural que exista um certo desnível técnico entre jogadores do mesmo time, e que este desnível seja compensado por aquilo que chamamos de conjunto  e eficiência.
A seleção de 1958 saiu do Brasil um tanto desacreditada, mas foi se ajustando, foi engrenando, mesclou um futebol de competição com um futebol de espetáculo e acabou trazendo a Copa Jules Rimet (a primeira de uma série de cinco Copas do Mundo) para a estante de troféus da CBF, na época CBD.
Os jogadores mais elogiados pela imprensa mundial durante e depois do torneio foram Nilton Santos, Didi, Garrincha e Pelé. A seleção praticava um futebol ofensivo, fazia muitos gols (foram 16 em 6 partidas, com uma média de quase 3 gols por jogo) e o ataque fazia jogadas de enlouquecer, carimbadas pelas fintas de Garrincha, pela elegância e acertos de passe de Didi e pelas coisas inesperadas que o garoto Pelé fazia.
E a defesa tomou apenas 4 gols, todos eles nas duas partidas finais (média de 0,6 gols por jogo), com uma firmeza que simplesmente não deixava os adversários chegar às redes.
Ela era formada por Gilmar, De Sordi (Djalma Santos na final), Bellini, Orlando e Nilton Santos. Este quinteto defensivo se desfez recentemente. Orlando morreu em 2010. Gilmar, De Sordi, Djalma Santos e Nilton Santos se foram em 2013.
E o último destes baluartes, Bellini, encerrou a sua carreira na vida na última quinta-feira.
Não, ele não era nenhum craque, e em toda a história da seleção com certeza existiram jogadores mais refinados na sua posição. Ele não foi um Domingos da Guia, mas também não cometeu nenhuma “domingada” (lance em que o zagueiro tentou enfeitar, se complicou e acabou cometendo o pênalti contra a Itália que eliminou o Brasil da Copa de 1938).
Bellini era firme, sério, comprometido, garantia a defesa e dava conta do recado.
Foi ele o capitão que inaugurou o gesto de erguer a taça com as duas mãos, pois ninguém o havia feito nas quatro Copas anteriores, talvez por não possuírem a sua imponência.
Nesta seleção, nem todos eram craques, mas com certeza todos os que jogaram mostraram um time de personalidade, que teve que enfrentar o “complexo de vira-lata”, história inventada pelo jornalista e dramaturgo Nélson Rodrigues após as desclassificações nas Copas de 1934 e 1938, e as acusações de “covardes”, injustamente atribuídas à seleção de 1950, e de “amarelão”, não pela cor da camisa, mas por ter presumivelmente “amarelado” nas duas derrotas seguidas na primeira fase da Copa de 1966, contra a Hungria e Portugal, ambas por 3x1.
Dos 22 da Copa de 1958 ainda estão vivos Pelé (73), Mazzola (75), Moacir (77), Pepe (79), Zito (81), Dino Sani (81) e Zagallo (82).
Apesar de cinco vezes campeã, a seleção brasileira nem sempre teve exibições de gala – exceto em 1958, 1970 e 1982, esta última incrivelmente perdida na semifinal.
Em termos de clubes, o Brasil mostrou ao mundo outros esquadrões quase perfeitos que também tinham ali e acolá um ou outro jogador que sem ser genial fazia parte de um grupo de gênios.
O Santos de 1960 a 1969 teve Carlos Alberto, Zito, Pelé, Coutinho, Clodoaldo e outros bambas, mas também teve Feijó, Dalmo e alguns menos cotados.
O mesmo se diz do Flamengo de Zico, Adílio, Andrade e Junior, que tinha no grupo os menos talentosos, mas não menos importantes Lico e Nunes.

                                                                                                

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