O DOSSIÊ VÔLEI
Existem
mais mutretas entre o céu e a terra do que supõe a nossa ingenuidade. A praga
do enriquecimento ilícito toma conta de todos os segmentos da sociedade, como
um vírus que se espalha descontroladamente. E, de escândalo em escândalo, assim
caminha a humanidade.
O
jornalista Lucio de Castro, da ESPN Brasil, que além de comentar as minúcias de
uma partida de futebol também faz o tipo de jornalismo investigativo, foi fundo
nos bastidores do voleibol brasileiro, esporte considerado o segundo favorito
do torcedor, depois do futebol.
O
que ele descobriu faz eco ao que, com certeza, acontece com outros esportes e
com muitas organizações criadas para promover algum tipo de atividade,
esportiva ou não.
Tempos
atrás já tivemos uma sequência de denúncias sobre o judô, o taekwondo, o
atletismo, o basquetebol e próprio Comitê Olímpico, sem contar o futebol, de
múltiplas falcatruas que remontam a época de João Havelange e Ricardo Teixeira,
passando pela atual salada de desmandos com o dinheiro público no advento da
Copa do Mundo.
No
voleibol não poderia ser diferente.
Nas
últimas semanas o repórter revelou que em 2013 o superintendente geral da
Confederação Brasileira de Voleibol, Marcos Pina, embolsou indevidamente a
quantia de 10 milhões de reais em nome da firma SMP – Logística e Serviços Ltda.,
fundada em sociedade com a mulher, com capital registrado de 10 mil reais.
O
pagamento foi feito a título de uma suposta comissão pela SMP pela
intermediação do contrato de patrocínio com o Banco do Brasil, coisa que o banco
não faz por causa do seu estatuto. Pressionado pelo presidente, Marcos Pina
pediu demissão do cargo.
Nesta
semana, mais um escândalo: Fábio André Dias Azevedo, dirigente da CBV e braço
direito de Ary Graça Filho, presidente da FIVB-Federação Internacional de
Voleibol, também faturou 10 milhões em nome da empresa S4G Gestão de Negócios,
também a título de comissão.
Ambos
os contratos destacavam a “notória especialização” das empresas que
intermediaram o negócio, muito embora elas tivessem sido constituídas às
vésperas da assinatura do contrato e nunca tivessem participado de qualquer
outro negócio.
A
história é antiga. Em 1997 a colunista de vôlei Cida Santos, da Folha de São
Paulo, já anunciava irregularidades no contrato entre a CBV e o Banco do Brasil
pelo mau uso da verba de patrocínio, tendo o deputado federal Augusto Carvalho
(PPS-DF) solicitado ao Tribunal de Contas que investigasse o caso.
Na
época, o Banco do Brasil passou a exigir da CBV um relatório minucioso sobre o
uso da verba de patrocínio, mas a coisa acabou dando em nada.
Há
uma intensa indignação por parte de atletas e profissionais do vôlei, que pedem
uma investigação rigorosa e uma punição exemplar dos envolvidos.
À
parte o clamor popular, de que este tipo de verba poderia ter sido utilizada
para fins mais prementes como saúde, saneamento e educação, entendo que o dinheiro
deveria ter sido direcionado para o esporte, pois esta era a sua finalidade.
Vinte
milhões de reais não é muito para a construção de casas, escolas, hospitais e
estradas nem para fortalecer a segurança do cidadão, mas se efetivamente
destinados ao esporte teriam proporcionado assistência e treinamento a jovens
atletas, melhor organização de torneios, condições mais dignas de trabalho para
técnicos, preparadores físicos e auxiliares que vivem de esmola com baixos
salários pagos por outros patrocinadores e – por que não? – uma preparação de
qualidade para enfrentarmos os Jogos Olímpicos daqui a dois anos.
E
o dinheiro? Vai ser devolvido?
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