ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTE” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 19/05/2014
ALFREDO, O SOBREVIVENTE
A
vinte e cinco dias do início da Copa, o cidadão brasileiro, pelo bem ou pelo
mal, está respirando um clima de futebol. A imprensa vem dando cobertura a esse
sentimento, comentando fatos e curiosidades de interesse do público.
Fazem
parte do pacote de informações uma série de mitos, verdades e meias verdades,
tudo para manter o torcedor ligado no clima da Copa.
Um
dos motes preferidos é ressaltar que o Brasil terá finalmente a oportunidade,
sessenta e quatro anos depois, de resgatar diante do seu torcedor a alegria que
nos foi usurpada em 1950.
Mas
o que se lê e ouve por aí é que infelizmente não restou vivo nenhum dos “anti-heróis”
do time de 1950, demonizados pela história e pintados com a pecha de “covardes”
pela imprensa da época. Afirma-se que não teria sobrado nem um deles para ver os
atuais jogadores brasileiros darem a volta triunfal no mesmo Maracanã, coisa que
os “anti-heróis” não conseguiram fazer naquele fatídico 16 de julho.
Mas
existe sim, escondido e calado, um jogador remanescente daquele grupo. Ele é o
polivalente Alfredo, chamado de Alfredo II porque quando ele começou em São
Januário já existia um Alfredo, atacante mineiro que não se perpetuou no clube.
Alfredo
II (nascido Alfredo Ramos dos Santos) mora no Rio de Janeiro e, aos 93 anos,
ainda torce pelo Vasco da Gama, clube que defendeu de 1937 até 1957 (fora o
hiato de alguns meses em 1949 onde jogou uns poucos amistosos pelo Flamengo,
mas não chegou a assinar contrato).
Ele
ganhou cinco títulos estaduais entre 1945 e 1952, um Campeonato Sul-Americano
de Campeões disputado em 1948, dois Sul-Americanos com a seleção brasileira
(1945 e 1953), e participou da Copa do Mundo de 1950.
Alfredo
II jogava como lateral, volante, meia e atacante com a mesma desenvoltura.
Chegou a atuar até como goleiro numa partida contra a Portuguesa carioca.
Esta
versatilidade não lhe foi benéfica. Por não ter uma posição definida nunca
chegou a ser unanimidade e era tratado pelos técnicos como um “quebra-galho”
que podia ocupar a posição de qualquer titular que apresentasse problemas.
O
torcedor brasileiro ficou mais ou menos surpreso quando o treinador Flávio
Costa o anunciou entre os convocados para a Copa. A explicação para a sua
convocação foi exatamente a possibilidade de atuar em diversas posições.
A
imprensa paulista foi impiedosa e acusou o treinador de convocar o jogador
porque ele atuava no Vasco, clube que Flávio Costa treinava (na época não
existia a figura de técnico exclusivo da seleção).
De
fato, Flávio Costa convocou para a Copa nada menos do que oito jogadores do
Vasco (Barbosa, Augusto, Ely do Amparo, Danilo Alvim, Ademir, Maneca, Chico e o
próprio Alfredo II), mas isto parecia justo porque o clube de São Januário da
época era uma verdadeira máquina, que o torcedor vascaíno chamava de “O
Expresso da Vitória”.
A
seleção brasileira jogava por música, e tinha uma dupla de meio-campistas –
Bauer e Danilo – e um trio atacante – Zizinho, Jair e Ademir – que estavam
entre os melhores do mundo.
Dizem
as crônicas da época que Flávio Costa, querendo fazer uma política de boa
vizinhança com os torcedores e jornalistas de São Paulo, escalou contra a Suíça
no Estádio do Pacaembu um time com mais jogadores paulistas, numa partida que
se afigurava fácil e acabou se tornando difícil. Ele aproveitou para escalar
Alfredo II, numa espécie de resposta dada àqueles que o criticavam.
Desentrosado,
e sem as suas melhores estrelas, o Brasil jogou mal e cedeu um empate de 2x2. Mas
o criticado Alfredo II mostrou a que veio e logo que teve a oportunidade ele
deixou a sua marca, fazendo um gol aos três minutos de jogo.
Não
se sabe em que condições de saúde se encontra atualmente Alfredo II, mas seria
uma bela atitude da CBF convidá-lo para ocupar
um lugar na tribuna de honra do Maracanã na partida de estreia do Brasil.
Augusto Pellegrini
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