quinta-feira, 26 de junho de 2014







À ESPERA DE UM FUTEBOL CONVINCENTE

 
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 26/06/2014)

 
Aproveitando a euforia da goleada brasileira sobre Camarões, vamos falar um pouco de futebol, pois afinal uma Copa do Mundo não se resume a torcida, acontecimentos extracampo, corrupção, cartolagem e erros de arbitragem, assuntos que temos abordado ultimamente.
O ingrediente maior de um torneio deste calibre é o futebol praticado em campo e neste quesito a Copa disputada no Brasil está sendo superior às últimas edições, quer pela emoção que as partidas estão proporcionando quer pela quantidade de gols anotados, pois estamos na casa de três tentos por partida.
Apesar das atuações convincentes da Alemanha, Holanda e França, ainda é cedo para que se faça qualquer prognóstico porque a fase de grupos que se encerra hoje é apenas um aperitivo do que está para vir, e o Brasil, é claro, continua a figurar entre os favoritos.
Mas nas oitavas de final, qualquer escorregão será fatal, e mesmo considerando o inevitável desnível de certos jogos, surpresas acontecem e podem significar para muita seleção com pinta de favorita a eliminação prematura do torneio.
Com três jogos disputados, todas as equipes já moldaram definitivamente o time e o sistema de jogo ideal para seguir adiante. Também já analisaram em detalhes como se comporta o adversário, quais os seus pontos-chave e qual o seu setor mais vulnerável.
Ao Brasil cabe enfrentar o Chile, velho conhecido – e freguês – em Copas do Mundo. Nos três confrontos já realizados, o Brasil sapecou 4x2 (Copa do Chile – 1962), 4x1 (Copa da França – 1998) e 3x0 (Copa da África do Sul – 2010). Em todas estas partidas o Chile vinha precedido de alguma fama. Na prática, porém, a esquadra chilena sempre fez água.
Possivelmente esta seja a seleção mais bem estruturada que o Chile já montou para disputar uma Copa do Mundo, incluindo aquela jogada no seu próprio país. O Chile de hoje possui uma defesa que não dá espaços, um meio-campo marcador e criativo e um ataque envolvente comandado por Alexis Sánchez e Eduardo Vargas.
No entanto, a mística da camisa amarela pesa, e pesa muito, o que poderá fazer com que os chilenos joguem preocupados e não consigam produzir o futebol que estão mostrando até agora.
O Chile tem a seu favor o fato de poder atuar como franco atirador, pois aparentemente quem tem a obrigação de vencer é o Brasil. Quanto mais os chilenos dificultarem a movimentação brasileira mais o time anfitrião se sentirá incomodado pela pressão da torcida.
O Brasil já começa a partida com uma carta no bolso, que poderá ser usada no momento adequado: o preparo físico. O jogo será realizado à uma da tarde sob o sol de Belo Horizonte, e como ficou evidente na partida disputada contra a Holanda, os chilenos caem de produção nos últimos vinte minutos de jogo e afrouxam o poder de marcação. O calor poderá fazer a diferença.
Mas o Brasil tem que melhorar muito o seu desempenho.
Por mais que o técnico Felipão, fique irritado com os questionamentos da imprensa, a seleção ainda está devendo. O goleiro Julio Cesar tem vacilado nas poucas vezes em que foi exigido (o próprio gol sofrido contra Camarões aconteceu porque o goleiro não procurou interceptar a trajetória da bola que cruzou a pequena área bem na sua frente).
Os dois laterais estão marcando mal. Marcelo ainda tem funcionado bem como ala avançado, mas Daniel Alves não marca nem apoia, e está longe de mostrar um bom futebol.
Como o nosso meio-campo não é criativo, os atacantes têm que se contentar com a ligação direta via lançamentos longos ou chutões de David Luís e Thiago Silva.  
A seleção brasileira está vivendo da boa fase de Neymar e dos erros dos adversários, o que, convenhamos, é muito pouco para quem pretende ser campeão do mundo.   

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