A FORÇA DA TORCIDA
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 23/06/2014)
A
Copa do Mundo é o mais importante torneio de futebol do mundo, com perdão da redundância.
Ela congrega teoricamente as 32 melhores seleções do planeta e possui um apelo
e visibilidade de tal tamanho que chega a emocionar e prender a atenção até de
pessoas que normalmente não se interessam pelo futebol.
A
geopolítica do esporte e a necessidade da exposição do futebol para fazer
frente às exigências mercantilistas de empresas e instituições que apostam alto
para lucrar muito obrigam uma setorização de países para que todos os
continentes sejam representados no torneio. Com isso, algumas seleções
tradicionais acabam cedendo espaço para outras de menor calibre que, com raras
exceções, participam das Copas apenas como figurantes.
Das
dezenove edições já disputadas desde 1930 (a edição atual é a vigésima), a Copa
teve 78 países participantes, dos quais apenas 8 conseguiram conquistar o
troféu (5 vezes o Brasil, 4 vezes a Itália, 3 vezes a Alemanha, 2 vezes a Argentina
e o Uruguai, e 1 vez a Inglaterra, França e Espanha). Os outros 70 menos
privilegiados tiveram que se contentar com a condição de coadjuvante.
Nas
19 Copas disputadas apenas 6 vezes o país anfitrião ganhou a taça e fez a
felicidade da sua torcida.
O
Brasil, apesar de pentacampeão, não está entre eles – como todos sabem, sediou
a Copa em 1950 e não se deu bem. Quem fez a festa em casa e festejou com ela
foram o Uruguai (1930), a Itália (1934), a Inglaterra (1966), a Alemanha
(1974), a Argentina (1978) e a França (1998). A Itália, a Alemanha, a França e a
Espanha, porém, já passaram também pela desagradável experiência de perder a
Copa diante do seu público.
Isto
é uma prova de que torcida a favor pode ajudar, mas não necessariamente ganha
jogo. Dependendo da pressão exercida e da condição psicológica dos jogadores
pode ser até um fator negativo.
O
Brasil-2014 está numa situação ambígua.
Seus
comandantes adotaram o discurso de que o título é apenas uma questão de tempo e
conseguem ver alguma evolução entre as partidas contra a Croácia e contra o
México, apesar de os analistas terem visto o contrário. Mas há rumores de que os
jogadores se sentem inseguros e alguns novatos demonstram claramente que a
camisa está pesando – afinal, encarar a primeira Copa em casa não é fácil.
A
imprensa está desconfiada, como sempre, pois por mais que tente transmitir
confiança sabe que o Brasil não possui mais o glamour e a qualidade que teve em
outros tempos e que esta seleção não é essa coca-cola toda.
Por
outro lado, a torcida canarinho não é uma torcida de clube, que se fecha em
torno da equipe e vai até o fim com ele mesmo em situações adversas, como vimos
recentemente com as campanhas de Cruzeiro e Atlético na Libertadores.
A
torcida da seleção tem na sua maioria famílias de classe média alta que tiveram
condições de arcar com os custos da aventura de ocupar uma cadeira numa das
arenas cheirando a tinta e que são flagradas pelas câmeras indiscretas fazendo
selfies para se auto-registrar na festa ou se empolgando quando sua imagem
aparece no telão do estádio, mesmo com o desempenho e o resultado da seleção
deixando a desejar.
Tudo
indica que o Brasil deve passar sem problemas contra Camarões no jogo de hoje, até
por conta da desarmonia existente entre os africanos, mas o que preocupa na
verdade é o emparceiramento que virá pela frente.
A
torcida terá um papel fundamental no crescimento técnico da seleção, mas para
isso precisa apagar a má impressão deixada no jogo contra o México, onde torcedores
astecas cantaram, gritaram e incentivaram muito mais do que os brasileiros
presentes, mais preocupados em curtir a festa do que em empurrar o time.
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