terça-feira, 5 de agosto de 2014




                                                              OS GRINGOS
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 04/08/2014) 
Muito ainda se discute a respeito da contratação de um técnico estrangeiro para modernizar a estrutura tática do futebol brasileiro.
Boa parte da imprensa é a favor, por entender que os treinadores brasileiros estão acomodados, não reciclam os seus conhecimentos nem procuram entender as novidades que estão acontecendo no mundo, especialmente na Europa. O torcedor, no entanto, ainda está um pouco reticente, como se considerasse uma certa falta de patriotismo entregar nossa riqueza futebolística nas mãos de um aventureiro.
Os dirigentes, por seu turno, não querem nem tocar no assunto, e os técnicos desconversam, mas evidentemente temem por uma perda de mercado, que já está um tanto incerto mesmo na competição doméstica pelo cargo.
O Palmeiras resolveu apostar pra ver, e mesmo diante da disponibilidade de diversos profissionais patrícios, alguns mais, alguns menos gabaritados, trouxe o argentino Ricardo Gareca, que tem no seu currículo alguns títulos não muito expressivos dirigindo os clubes Talleres e Vélez Sarsfield, da Argentina e o Universitário, do Peru.
É bem verdade que os treinadores brasileiros, mesmo com a fama e o poderio do futebol pentacampeão também não acrescentaram muito quando foram contratados para trabalhar no exterior. Os mais emblemáticos, Felipão e Luxemburgo, não deram certo em dois dos mais importantes clubes do mundo – Chelsea e Real Madrid – e outros treinadores como Zico, Joel e Parreira não chegaram a efetivamente brilhar nas suas experiências internacionais.
Felipão chegou a dar um certo impulso no futebol português, mas ficou no meio do caminho, até por conta das limitações dos jogadores da terrinha.
Muitos dos nossos jogadores, no entanto, já encantaram o mundo – e a lista é grande, de Julinho a Evaristo, de Falcão a Careca, de Romário a Ronaldo, de Rivaldo a Ronaldinho Gaúcho. Estranhamente, o sucesso dos futebolistas brasileiros sempre se deu na Europa, nunca no continente sul-americano, talvez por questões financeiras, mas também porque na América o seu futebol não seria tão resplandecente, dado o estilo de jogo praticado pelos latinos do lado de baixo do equador.
Mas ao mesmo tempo em que vivemos uma entressafra de exportação, nossos clubes começaram a importar com mais frequência.
Os 12 principais clubes do Brasil (4 de São Paulo, 4 do Rio de Janeiro, 2 de Minas e 2 do Rio Grande do Sul) contam no momento em suas equipes com 36 jogadores estrangeiros, o que dá uma média de 3 jogadores por equipe.
O Palmeiras é o recordista de importações, 6 no total, algumas delas pedidas pelo técnico Gareca, que se sente mais à vontade podendo contar com atletas que ele conhece.
São Paulo e Atlético Mineiro são os que têm menos jogadores estrangeiros na equipe, apenas um cada.
São no total 17 argentinos, 7 paraguaios, 5 uruguaios, 2 colombianos, 2 chilenos, 1 peruano e 1 boliviano, além de Eduardo da Silva, que nasceu no Brasil mas tem nacionalidade croata.
Muitos deles são jogadores de qualidade e titulares indiscutíveis nos clubes brasileiros que defendem.
Os destaques vão para Darío Conca (Fluminense) e Andrés D’Alessandro (Internacional), verdadeiros maestros na organização das suas equipes, e para Paolo Guerrero (Corinthians), Hernán Barcos (Grêmio) e Marcelo Moreno (Cruzeiro) artilheiros que têm feito a diferença nos seus clubes.
É interessante notar que existe uma carência de bons jogadores brasileiros tanto nas funções de meio-campo e assistências aos companheiros (caso de Conca e D’Alessandro) como na definição das jogadas como goleador (casos de Guerrero, Barcos e Moreno), aqui no Brasil e também no exterior.

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