segunda-feira, 1 de setembro de 2014




VAI SOBRAR PRA MOCINHA

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 01/09/2014)

Foi um jogo Grêmio x Santos para ficar na história. Não pelo futebol apresentado, nem pela expulsão de Felipão e muito menos pelo gol de pebolim (totó, para alguns) de Robinho.
O jogo ficará na história pela insanidade de alguns torcedores e pela ação das autoridades que se espera venha acontecer.
A estupidez de uma garota de 23 anos veio reacender a delicada questão do racismo nos campos de futebol.
Na verdade, trata-se de uma estupidez com várias facetas: uma é inerente à sua própria personalidade ou formação, mostrando que a jovem teve uma péssima educação e não sabe se comportar em sociedade; outra é a alienação de cometer um crime “da moda”, isto é, o racismo vem sendo condenado em todo o mundo e a pessoa que não atenta para este pecado mostra que não está bem informada sobre a pressão da sociedade e as consequências que podem dele advir; finalizando, em virtude do mau comportamento da sociedade, o mundo está sendo severamente vigiado e hoje temos câmeras em todos os locais, lojas, bancos, condomínios, estacionamentos, ruas e... estádios de futebol.
As câmeras instaladas nos estádios são complementadas pelas câmeras das emissoras de TV, multiplicando a possibilidade de alguém ser flagrado cometendo qualquer ato ilícito.
Talvez existam outras imagens gravadas pelas câmeras oficiais, mas nós estamos sendo bombardeados pelas imagens flagradas pela ESPN, que mostram além da garota também cerca de uma dúzia de marmanjos se manifestando em outro local das arquibancadas, provavelmente com gritos imitando macacos, provavelmente usando de manifestações racistas, ou quem sabe se limitando a atacar a honra da progenitora do goleiro santista.  
Alguns poderão chamar este ato de crime, outros de comportamento inadequado, outros ainda de burrice, mas a reação do goleiro Aranha, do Santos F.C. poderá ser o estopim para que estas atitudes com pano de fundo racista comecem finalmente a ser punidas dentro do que preceitua a lei.
Em primeiro lugar existe a diferença entre crime de racismo e de crime de injúrias com conotações racistas, que foi realmente o que aconteceu.
Seria racismo se a senhorita se recusasse a sentar-se ao lado de um negro, assim como é racismo você diferenciar o tratamento de pessoas dependendo da cor da pele, como o que existia na África do Sul, que tinha escolas, lojas, banheiros e restaurantes separados para negros e para brancos.
O que houve foi o crime de injúria, quando existem ofensas para denigrir uma pessoa por ela ser negra (o próprio verbo “denigrir” tem na sua etimologia as partes “de+negro+ir”, o que em si já é um preconceito).
As penalidades entre um e outro crime variam, e aqui caberia um arrazoado jurídico no qual não tenho competência para me imiscuir, mas sei que elas existem, e neste caso devem ser cumpridas para evitar que se repitam ou pelo menos para minimizar a sua incidência.
Cabe aqui uma pitada de curiosidade: quatro torcedores de uma massa de meia dúzia que desancaram o goleiro Aranha eram negros, e custa a crer que negros ofendam negros por meio de racismo, o que deixa claro que muito xingamento que acontece nos estádios pode surgir na hora da emoção e que o seu significado deve ser de certa forma minimizado.
Cresce então a responsabilidade da torcedora que foi pega com a boca na botija, pois em nenhum momento ela parecia estar tomada por violenta emoção; ao contrário, ela não exibiu nenhum gesto brusco e no intervalo entre uma xingação e outra, parece ter raciocinado, tomado fôlego e decidido desferir mais um petardo.
Com a palavra, os advogados, e com a última palavra a justiça.

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