BRASIL VENCE DO OUTRO
LADO DO MUNDO
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 14/10/2014)
Três
meses após o vexame da Copa do Mundo, a CBF fez a seleção cumprir um amistoso
de risco contra a Argentina. Foi um negócio da China, se considerarmos o valor arrecadado
pela entidade e o local do embate. E foi um amistoso de risco porque
aparentemente prematuro: o Brasil está começando uma nova fase e deveria
fazê-lo com muita calma e prudência.
José
Maria Marin nunca escondeu o desejo de apagar de vez o trauma dos 7x1 contra a
Alemanha, porque considerou o desastre apenas um simples acidente de percurso.
Para ele, todas as coisas na Copa foram bem planejadas e feitas com perfeição,
e somente uma dose de má sorte cavalar poderia ter eliminado o Brasil da
competição da forma como eliminou.
Para
acabar com a má impressão deixada pelo ocorrido, ele arregaçou as mangas e
substituiu o técnico perdedor num piscar de olhos, sem avaliar criteriosamente
o mercado nem levar em conta as razões do fracasso.
Dunga
e Gilmar Rinaldi foram colocados nos lugares de Felipão e Parreira e com isso
Marin contava com uma reviravolta no panorama. Até agora, deu certo.
Marin
continua vivendo num mundo de faz-de-conta onde tudo é cor-de-rosa, e nem passa
pela sua cabeça que está na hora de uma reformulação total de ideias, incluindo
aí os modernos métodos de gestão utilizados por empresas vencedoras. Como,
porém, o futebol vive de resultados, ele vai faturando seus pontos, com três
vitórias e nenhum gol sofrido na nova era Dunga.
A
partida contra a Argentina tinha vários aspectos para serem levados em conta:
em primeiro lugar, tratava-se do nosso maior adversário, contra o qual
disputamos 100 partidas, ganhando 40, perdendo 36 e empatando outras 24; além
disso, estava em disputa uma taça, que representa o Superclássico das Américas
e vai enriquecer a sala de troféus da CBF; finalmente, o Brasil precisava voltar
a ser respeitado pelo resto do mundo.
Numa
análise fria da partida, podemos dizer que o Brasil jogou com inteligência,
aplicando uma tática de time pequeno até fazer o primeiro gol, numa falha da
zaga argentina muito bem aproveitada por Diego Tardelli, naquilo que foi o
primeiro chute da nossa seleção a gol. Depois, jogou no erro e no nervosismo
do adversário, tentando explorar as jogadas individuais de Neymar – duramente
marcado – e de Willian, que tinha muito espaço pela direita devido aos avanços
do lateral Rojo e às dificuldades de cobertura da zaga central, Demichelis e
Fernández, muito lentos e pesados.
O
segundo gol veio também através de uma falha defensiva e do oportunismo de
Tardelli.
De
positivo, vimos a vontade de o time se encontrar, a obediência tática dos
jogadores ao pragmatismo do treinador, e a volta de Kaká, que no pouco tempo
que jogou deu uma consistência diferente para o meio-campo. De negativo, a
impressão de que o torcedor brasileiro vai continuar sofrendo com a falta de
qualidade do nosso futebol.
Mais
negativa ainda continua sendo a atitude do técnico Dunga, que mais parece um
cão raivoso. Falta-lhe a postura exigida ao cargo de técnico de uma seleção que
ostenta o nome de um país.
Dunga
bateu boca inutilmente com o pessoal do banco argentino, falou palavrões para o
quarto árbitro e mostrou um sério descontrole emocional durante toda a partida,
continuando até depois do final do jogo.
E
o seu time ganhou por 2x0! Imaginem se tivesse perdido?
O
público chinês fez o que pode para incentivar as duas seleções. Infelizmente,
porém, o gramado do Ninho de Pássaros mais parecia o chão de um galinheiro,
criando muitas dificuldades para brasileiros e argentinos dominarem a bola e
melhorarem a qualidade do espetáculo.
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