O FANTASMA DA COPA
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 20/11/2014)
Depois
da fracassada campanha de um hexacampeonato que deveria ter acontecido, mas não
aconteceu, sobraram especulações de todo tipo.
O
povo demonstrou o seu descontentamento de uma maneira fúnebre. O ufanismo foi
pro brejo, e sobraram nas ruas vazias o chão pintado de verde e amarelo e as bandeirolas
flanando ao sabor do vento.
Na
sequência, houve por parte da própria CBF a execração pública de Felipão e da
psicóloga Regina Brandão, que admitiu ter havido um pânico geral no grupo de
jogadores e que não soube como evitá-lo.
Adicione-se
a isso que o sintoma de desconforto emocional já se manifestara através de um
choro coletivo e convulsivo dos jogadores durante a execução do Hino Nacional
antes do confronto com o México em Fortaleza (tal atitude foi creditada pela
psicóloga ao efeito causado pelo Hino Nacional cantado à capela mesmo depois de
a banda ter encerrado a parte musical).
O
fato é que às vésperas da Copa os jogadores não se sentiam confiantes – o
reserva Dante acaba de admitir isso – e muitos deles se confessavam assustados
pela enorme responsabilidade de disputar o torneio em casa, sob a cobrança de
uma torcida entusiasmada por toda a expectativa que foi gerada pelo evento.
A
ausência de jogadores experientes para segurar a barra – Ronaldinho, Robinho,
Kaká, sei lá – foi sentida e percebida pela comissão técnica quando já era
tarde, pois a convocação já havia sido anunciada e sacramentada.
Foi
Parreira, um veterano de Copas do Mundo (e não Felipão nem a psicóloga) quem
detectou o problema, tão logo os jogadores se apresentaram em Teresópolis.
Ele
cogitou inclusive que a seleção mudasse o local da hospedagem para um hotel,
cenário ideal para jogadores acostumados a se concentrar antes de partidas
pelos seus clubes, mas a CBF de pronto vetou a ideia.
Todos
se lembram de que durante uma entrevista coletiva antes da estreia contra a
Croácia, Parreira afirmou que o ambiente era ótimo, que a disposição dos jogadores
era excelente, que o Brasil disputaria uma Copa sem problemas e que “já
estávamos com uma mão na taça”.
Há
alguns dias, o mesmo Parreira foi entrevistado em um canal de televisão, onde
declarou que a seleção brasileira não era tecnicamente superior a alguns
concorrentes nem estava psicologicamente preparada para enfrentar um desafio
daquele tamanho. Ele diz que havia problemas com a organização, deixando transparecer
nas entrelinhas que temia algumas seleções, como Alemanha, Holanda, Argentina,
Espanha e Itália, e que aquela declaração sobre “a mão na taça” havia sido uma tentativa
de injetar um pouco de ânimo nos jogadores amedrontados.
A
nova seleção, agora “sob nova direção” – como costuma ser anunciado em postos
de gasolina e churrascarias à beira da estrada – vem cumprindo o seu papel.
Foram 6 vitórias em 6 amistosos disputados, com 14 gols marcados e apenas um sofrido,
o que qualifica o ataque e também a defesa.
Por
conta de uma contusão de Thiago Silva, ele perdeu a posição para Miranda e a
faixa de capitão para Neymar. Voltou a ser chamado e agora é banco, mas não
perdeu a mania de chorar, o que faz a gente pensar que possivelmente o baixo
astral que tomou conta da melancólica seleção da Copa emanava dele.
Dunga
está tentando ser político à sua maneira, mas com certeza não gostou nem um
pouco da reclamação do zagueiro que chegou aos seus ouvidos através da
imprensa, e declarou laconicamente que “ninguém é dono de nada” e que “cada um
tem o direito de expressar a sua opinião e de assumir aquilo que fala”. Mas
durante o jogo contra a Áustria, acabou colocando o chorão no lugar de Miranda
e substituindo Neymar para dar ao zagueiro a faixa de capitão.
Dunga
estava indo bem no comando da nova seleção e acaba de dar a primeira escorregada,
o que faz estremecer a sua liderança e traz de volta o fantasma da Copa, que
parecia ter sido exorcizado. O mal-estar volta a rondar a seleção.
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