O PODEROSO CHEFÃO
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 27/11/2014)
Os
clubes e as federações de futebol são para muitos dirigentes uma espécie de
capitania hereditária, e apesar de cada entidade ter um sistema próprio de
eleição, que é determinado pelo seu estatuto, todos insistem em se perpetuar no
poder ou de pelo menos indicar o seu sucessor.
Mas
qual a razão que leva empresários ricos e bem sucedidos a se desentender com a própria
família, arcar com débitos que não são seus e tirar dinheiro do próprio bolso
para assumir a presidência de um clube de futebol (e nela se manter),
suportando pressões, desgastes e até ameaças?
Será
que tudo é apenas uma questão de vaidade ou de amor ao clube?
Eurico
Ângelo de Oliveira Miranda vai ser empossado pela terceira vez como presidente
do Vasco da Gama, após um pleito novamente marcado por confusão e acusações de
parte a parte.
Miranda
ganhou as quatro eleições das quais participou, porém em uma delas ele ganhou mas
não levou, pois foram constatadas irregularidades na votação (como compra de
votos e adulteração do resultado) e a Justiça ordenou que o pleito fosse realizado
de novo.
Miranda
não concordou com a decisão judicial e resolveu não participar da nova votação
que acabou elegendo Roberto Dinamite. Colocou-se então na oposição, orientando
os conselheiros simpáticos à sua causa para literalmente dinamitar as
pretensões do presidente Dinamite, o que somado à sua natural inabilidade
gerencial, acabou por transformá-lo (Dinamite) em um dos piores presidentes da
história do clube.
Historicamente,
a influência de Miranda dentro dos bastidores do clube, com ou sem mandato, já dura
34 anos.
Vascaíno
devotado, Eurico Miranda tem a marca dos malditos mesmo entre os torcedores do
clube.
A
ele podem ser usados diversos adjetivos – inescrupuloso, dedicado, truculento,
polêmico, destemido, vencedor, desonesto, vaidoso – dependendo do ponto de
vista como ele é analisado.
Seus
aliados creditam a ele, na qualidade de presidente ou vice, o mérito de 37
conquistas, sendo 10 torneios internacionais, 8 títulos de campeão estadual, 7
Taças Guanabara, 7 Taças Rio, 2 Copas Rio, 1 Campeonato Brasileiro, 1 Torneio
Rio-São Paulo e 1 Torneio João Havelange.
Mas
seus detratores o acusam de ter fraudado todas as eleições das quais
participou, de manipular a carteira de sócios, de ter montado uma Máfia em São
Januário, de manobrar árbitros e a Federação, e de colaborar para o atraso na
gestão do futebol brasileiro e até de ter roubado a renda de um jogo. Muitos o
acusam de utilizar o clube para benefício próprio, e atribuem a ele todas as
mazelas que levaram o time para a Série B no primeiro ano de mandato do seu
sucessor.
Jogadas
as fichas, resta questionar mais uma vez se os meios justificam os fins.
O
caso de Eurico Miranda é emblemático, mas não é o único.
De
uma forma geral, todos os presidentes de clubes grandes se consideram abnegados,
pois dedicam à presidência todo o seu tempo livre, não raro viajando com a
equipe nos dias de jogo, o que os faz abdicar dos afazeres profissionais e de
uma vida familiar regular.
Como
principal mandatário de um clube, é o presidente quem avaliza empréstimos e
parcerias, quem cuida das finanças e quem autoriza o gasto de dinheiro nas
contratações de jogadores e nas reformas patrimoniais.
Todos
os presidentes dos principais clubes de futebol do Brasil são prósperos
empresários, pessoas bem sucedidas na vida e ególatras que adoram ser cultuados
como poderosos chefões que são.
Resta
saber se debaixo desse angu tem caroço.
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