FUTEBOL – NEGÓCIO OU
ESPETÁCULO? (PARTE I)
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 04/12/2014)
Nos
meados do século 19, o futebol era simplesmente uma competição esportiva.
Jogava-se pelo prazer de praticar o esporte e pelo prazer ainda maior de vencer
o adversário.
Naquele
tempo, pouca gente acreditava que essa diversão pudesse algum dia despertar
tanto interesse no público, mas na medida em que isto foi acontecendo, as pessoas
começaram a acreditar no esporte como disputa e a investir na parte financeira,
construindo estádios fechados – onde poderia haver cobrança de ingressos – e mais
tarde na profissionalização dos atletas.
Com
o tempo, surgiram novas fórmulas para fazer do futebol um exercício lúdico e ao
mesmo tempo um entretenimento popular que, como tal, deveria gerar receita,
assim como acontecia no teatro e nas tabernas.
Descobriu-se
enfim que o futebol poderia se constituir num excelente negócio, desde que
fossem proporcionados espetáculos incentivando a presença do público, quer pela
rivalidade entre as equipes, quer pela qualidade da exibição.
Com
o passar do tempo, a organização e o mercantilismo cresceram a tal ponto que infelizmente
os dirigentes deixaram de preservar a matéria prima – os atletas – em nome de uma
desenfreada busca de fortuna para cobrir os custos milionários da competição e,
é claro, embolsar muito dinheiro.
Assim,
ao mesmo tempo em que se desenvolvem em todo o mundo os torneios domésticos nas
suas várias formas e categorias, as Confederações procuram cada vez mais
incrementar a quantidade de amistosos entre seleções que, ao reunir os melhores
jogadores de cada país, lotam os estádios, mas privam os clubes da sua presença.
Há
cerca de um ano, alguns jogadores começaram no Brasil um movimento rebelde chamado
Bom Senso F.C., que visa entre outras coisas reduzir o excesso de trabalho a
que eles são expostos, pois muitos atletas atuam duas a três vezes por semana
sem tempo para desintoxicar a musculatura ou preservar a condição física. Alguns
não chegam a ter um mês de folga durante as férias.
Agora,
embora por outras razões, esta conscientização começa a chegar aos clubes.
As
datas Fifa foram criadas para que as seleções nacionais disputem amistosos a
fim de que a Fifa e as Confederações envolvidas embolsem um bom dinheiro
através dos patrocinadores e dos governos que bancam os custos de cachê,
viagem, hospedagem e prêmios de delegações inteiras, a ponto de dois vizinhos –
no caso Brasil e Argentina, recentemente – se deslocarem dezoito mil quilômetros
para se enfrentarem na China!
Trata-se
de uma logística absurda que inclui o desgaste de uma viagem aérea cheia de
escalas, a diferença de fuso horário, e a exposição dos jogadores a contusões
devido ao cansaço muscular e a gramados de má qualidade.
Nesse
negócio, as Confederações ganham muito e os clubes só perdem.
Perdem
porque continuam a pagar o salário do jogador mesmo quando ele está a serviço
da seleção, perdem porque sempre entregam o jogador em boas condições físicas
com o risco de recebê-lo contundido e perdem porque continuam jogando as suas
partidas oficiais desfalcados dos jogadores que estão servindo a seleção.
Nesse
ponto, os clubes perdem duas vezes, pois o interesse do público torcedor fica
reduzido com a ausência dos craques, causando queda na arrecadação, e porque
enfraquece o seu poder de fogo, correndo o risco de perder pontos importantes
para a sequência do torneio que estão disputando.
Em
outros países, as Federações e Ligas tomam o cuidado de suspender os jogos
locais nas tais datas Fifa, a fim de não prejudicar os times que estão cedendo
graciosamente seus jogadores para que essas entidades possam lucrar.
Mas
no Brasil o calendário futebolístico ainda é um caso de polícia.
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