UM VELHO JORNAL DE
ESPORTES
(ARTIGO PUBLICADO NO
CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 15 e 16/12/2014)
Qual
é o mistério que transforma clubes vencedores, acostumados a brigar por títulos
e seguidos por milhões de torcedores fanáticos, em meros cumpridores de tabelas
de campeonatos?
Por
que motivo clubes de grande tradição, que chegaram a disputar e ganhar torneios
e campeonatos importantes, de repente começam a definhar e passam a viver apenas
de história?
Nesses
casos, a queda parece uma doença insidiosa que começa devagar – um tropeço
aqui, um rebaixamento acolá – e quando o clube toma consciência já está lutando
pela sobrevivência.
No
momento, pelo menos três clubes brasileiros estão nesta corda bamba: Botafogo,
Palmeiras e Vasco da Gama, pela ordem do problema.
Talvez
pudessem ser incluídos nesta lista o Bahia e o Santa Cruz, pelos relevantes
serviços prestados ao futebol no século passado, mas vamos ficar nos três mais
tradicionais.
O
Botafogo, pela sua situação de insolvência, pela nova queda para a Série B e pela
possibilidade remota de montar um time competitivo para trazê-lo de volta à
divisão de elite, está prestes a se tornar um novo America do Rio de Janeiro,
cuja façanha histórica foi a conquista de 7 títulos de campeão carioca (o
último em 1960) e um Torneio dos Campeões em 1982.
Há
32 anos o Ameriquinha não ganha um título relevante e hoje amarga a Série D do
Brasileirão. Se o Botafogo não abrir os olhos, também chega lá.
O
Palmeiras é outro que precisa se cuidar. O clube foi rebaixado duas vezes nos
últimos 12 anos – este ano escapou por um triz – e tem que se renovar para
fazer jus ao seu centenário e ao seu moderníssimo Allianz Parque. A
reformulação parece que está em curso, e a primeira tarefa do presidente
reeleito e da nova diretoria é montar um time para brigar pelo menos até a
décima posição no ano que vem, e por uma campanha digna no Campeonato Paulista,
o que já seria uma vitória.
O
Vasco também está mal das pernas, mas o seu retorno à Série A e a volta do
polêmico caudilho Eurico Miranda poderão dar o gás necessário para que o time
se recupere. A torcida confia desconfiando.
Outros
clubes que algum dia chegaram a causar um certo impacto (Portuguesa,
Guarani-SP, São Caetano, Ceará, Paysandu – e agora também o Vitória) estão em
um patamar abaixo do nível de importância do futebol brasileiro.
E olhe que não estou me referindo apenas ao que acontece no Brasil, pois este desgaste é um fato corriqueiro que ocorre em todo o mundo, ou seja, no exterior a coisa não é muito diferente.
E olhe que não estou me referindo apenas ao que acontece no Brasil, pois este desgaste é um fato corriqueiro que ocorre em todo o mundo, ou seja, no exterior a coisa não é muito diferente.
O
grande Torino da década de 1940, base da seleção italiana que era favorita para
ganhar a Copa do Mundo de 1950, morreu junto com os seus jogadores no acidente
aéreo da Basílica de Superga em 1949, nos arredores de Turim. Isso aconteceu há
sessenta e cinco anos e desde então o clube nunca mais foi vencedor, embora
ainda seja o quinto maior campeão nacional.
Mas
a Inglaterra talvez seja a campeã dos ídolos decadentes.
Clubes
como Nothingham Forest, Leeds United, Sheffield Wednesday e Blackburn Rovers,
que já tiveram seus dias de glória praticamente sumiram. No momento o lendário
Liverpool está balançando e precisa urgentemente se consolidar se não quiser
ter mesmo destino.
Alguns
esquadrões europeus que chegaram a ser referência no passado – Estrela Vermelha
(antiga Iugoslávia, atualmente Sérvia), Austria Viena e Honved (Hungria) – não
são mais citados.
O
torcedor até aceita que o seu time tenha um jejum de títulos e alguma queda na
produção, mas não se conforma ao vê-lo desaparecer lentamente a ponto de se
tornar apenas uma página amarelada de um velho jornal de esportes.
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