A BRIGA PELOS ESTADUAIS
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Possivelmente
o leitor está achando o título deste artigo um tanto estranho, considerando que
os campeonatos estaduais em todo o Brasil terminaram no último fim de semana,
portanto a briga já acabou.
Mas
eu não estou me referindo à briga entre os clubes para ver quem iria desta vez
escrever o seu nome na galeria dos vencedores estaduais, tampouco a uma
eventual briga de dirigentes por também eventuais direitos lesados – a famosa
“briga do tapetão”, por exemplo. Eu me refiro a outra briga, a da turma dos
progressistas descontentes contra os tradicionalistas felizes, na grande
maioria compostas por jornalistas, ou seja, formadores da opinião pública.
De
um lado da queda de braço estão aqueles que entendem que os campeonatos
estaduais não acrescentam nada ao futebol, ao calendário ou à atual história do
futebol brasileiro, e que deveriam ser extintos.
Do
outro lado estão aqueles que defendem a continuidade dos certames em nome da
tradição, dos torcedores e da história do futebol brasileiro como um todo.
O
Brasil é o único país do mundo que tem campeonatos estaduais, e a razão é muito
simples. Devido à sua vasta extensão geográfica, à riqueza e diversificação de
culturas e ao isolamento inter-regional no início do século passado, quando o futebol
se consolidou no país, os clubes funcionavam como compartimentos estanques nos
seus respectivos estados e tinham que resolver as coisas entre eles.
A
visita de um clube de outro estado era vista com a mesma curiosidade como se
via a visita de um clube estrangeiro.
A
maioria dos clubes que hoje representam os estados da confederação foram
fundados nas duas primeiras décadas do século 20 (alguns foram fundados até
mesmo antes, mas tinham como atividade principal o remo, o cricket e outras pelejas
esportivas mais românticas).
Mas
os clubes que se situavam na mesma área geográfica tinham que jogar entre si,
pois naquela época era impensável qualquer compartilhamento com outros clubes
localizados em outros estados, em função das distâncias, da pobreza nas
comunicações, da dificuldade de locomoção e da disposição dos torcedores. Isto
acabou gerando os torneios chamados domésticos – os campeonatos estaduais – e
serviu para acirrar a rivalidade entre os torcedores e jogadores.
Essa
situação não era comum na Europa, mesmo quando tudo começou no final do século
19, nem nos outros países da América do Sul, pela menor extensão dos
deslocamentos entre as cidades, daí a razão de nesses lugares serem disputados apenas
os campeonatos nacionais, além das tradicionais Copas que reúnem centenas de
clubes de todas as divisões, nos moldes da nossa Copa do Brasil.
Deixando
de lado o academicismo da discussão, que tem por trás razões técnicas e
financeiras, além de um aproveitamento mais racional do calendário e da
preparação dos clubes que estão na disputa, para o torcedor da arquibancada e
os analistas de botequim acaba tendo mais valor o resultado de um Bahia x Vitória
e a disputa de um título estadual entre eles do que uma bela campanha no
campeonato brasileiro ou o sabor de uma vitória sobre um “grande” do Rio ou de
São Paulo.
E
nos estados de maior tradição, as pesquisas já indicaram que a rivalidade entre
os clubes gera mais emoção do que uma disputa entre eles e clubes de outros
estados, isto é, é mais “gostoso” para um flamenguista ganhar do Vasco (e, é
logico, o vice-versa, o que é válido para todos os outros “grandes”) do que
ganhar do Cruzeiro ou do Internacional.
Mas
os campeonatos estaduais não valem só para os grandes clubes. Os chamados
pequenos também lucram, ganhando espaço na mídia, revelando jogadores e
faturando um dinheiro que pode ajudar a manter a equipe em atividade no resto
do ano, mesmo disputando torneios menos expressivos.
Eu
sou a favor dos estaduais. E você?
(Artigo publicado no caderno SuperEsportes do
jornal O Imparcial de 08/05/2015)
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