ESPERANDO QUE AS COISAS
MELHOREM
O
clima político e econômico em que o país está envolvido se reveste de tamanha
importância que os temas esportivos – e os comentários deles advindos – estão perdendo
a força.
A
preocupação das pessoas está voltada para outro campo que não o esportivo, diminuindo
a costumeira irreverência circense entre torcedores rivais.
O
esporte deixou de ter relevância diante de um mar de problemas de amplitude
nacional, pois o torcedor está mais preocupado em garantir o emprego, o salário
e as condições de vida do que em discutir rivalidades por puro lazer. Afinal, relembrando
Milton Neves, “apesar de o futebol ser importante, ele é a coisa menos
importante entre as coisas mais importantes da vida”.
Além
do mais, estamos atravessando uma entressafra de notícias esportivas, e às vezes
fica até difícil ao comentarista discorrer sobre um assunto que possa levantar
polêmica ou provocar um motivo de discussão.
As
manchetes poderiam conter as tradicionais críticas à seleção brasileira do
momento, que muitos preferem chamar de seleção do Dunga ou seleção da CBF,
depois de uma vitória sem sal e sem tempero contra a sofrível seleção do Panamá,
mas isto vem sendo comentado há meses. Repetindo o jargão que está na moda,
“esta seleção não me representa”.
Para
completar, se a seleção não engrenar teremos um múltiplo prejuízo, pois os
clubes estarão desfalcados dos seus melhores jogadores durante algumas rodadas
do certame nacional, criando uma situação curiosa onde ninguém ganha e todos –
seleção, clubes, torcida e o espetáculo – perdem.
Talvez
seja esperar demais que a seleção brasileira mude a sua cara mesmo com a adoção
de jogadores novos que podem fazer a equipe jogar um futebol mais leve. O ideal
seria trocar de técnico e de conceito, o que fatalmente acontecerá no caso de
um mau desempenho na Copa América e na competição olímpica.
O
futebol brasileiro está precisando de uma reciclagem geral, começando pelos
dirigentes, passando pelos técnicos e desembocando nos jogadores. Quanto mais
profissional se torna o futebol no exterior, mais amadorístico ele vai ficando
no Brasil.
Os
dirigentes administram mal e não concedem aos técnicos um tempo razoável para
que seja implantada uma filosofia de jogo, os técnicos não conseguem impor um
sistema que se adapte os jogadores que eles têm em mãos e os jogadores não
treinam fundamentos, se limitando à preparação física e às peladas regulares.
Isto será assunto para um próximo artigo.
Tenho
muita desconfiança do que poderá acontecer na Copa América – e a Copa
Libertadores já deu uma mostra de como está o futebol dos outros países
sul-americanos comparado com o nosso.
Por
outro lado, o Campeonato Brasileiro ainda não esquentou.
Depois
da primeira rodada muito se falava do Palmeiras, que vinha com cara de
imbatível com seu elenco forte e um técnico com boas ideias que tem o time na
mão, mas no momento é a dupla gaúcha que vem sustentando as primeiras posições
ao lado do Corinthians, que voltou a ser vencedor praticando um futebol pouco
atraente.
Com
um equilíbrio pra baixo (nenhum clube alcançou os 100% de rendimento, e ainda
estamos nas rodadas iniciais), é muito cedo para que se faça qualquer
prognóstico. Acredita-se, no entanto, que pouco a pouco os velhos papões começarão
a se destacar no pelotão da frente, embora até agora alguns deles não passem de
uma pálida decepção, caso do Cruzeiro, Santos e Botafogo.
Na
Série B o Vasco vai liderando e mantendo uma invencibilidade de sete meses. O
time vai seguindo a trancos e barrancos e todos sabem das dificuldades que terá
pela frente, mas apesar de o campeonato ainda estar no início, o time de São
Januário esbanja vibração e segue na primeira colocação mostrando condições de
fazer uma campanha que poderá trazê-lo de volta à Série A.
Exatamente
no outro lado da tabela, apenas um ponto ganho e um gol marcado nas cinco
partidas disputadas, segue melancolicamente o Sampaio Correia. Ao contrário do
Vasco, o tricolor é um poço de desânimo e os desacertos vão se acentuando a
cada rodada, sem que o técnico, seja lá quem for, consiga melhorar o futebol
praticado.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 03/06/2016)
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