sexta-feira, 3 de junho de 2016






ESPERANDO QUE AS COISAS MELHOREM

O clima político e econômico em que o país está envolvido se reveste de tamanha importância que os temas esportivos – e os comentários deles advindos – estão perdendo a força.
A preocupação das pessoas está voltada para outro campo que não o esportivo, diminuindo a costumeira irreverência circense entre torcedores rivais.
O esporte deixou de ter relevância diante de um mar de problemas de amplitude nacional, pois o torcedor está mais preocupado em garantir o emprego, o salário e as condições de vida do que em discutir rivalidades por puro lazer. Afinal, relembrando Milton Neves, “apesar de o futebol ser importante, ele é a coisa menos importante entre as coisas mais importantes da vida”.
Além do mais, estamos atravessando uma entressafra de notícias esportivas, e às vezes fica até difícil ao comentarista discorrer sobre um assunto que possa levantar polêmica ou provocar um motivo de discussão.  
As manchetes poderiam conter as tradicionais críticas à seleção brasileira do momento, que muitos preferem chamar de seleção do Dunga ou seleção da CBF, depois de uma vitória sem sal e sem tempero contra a sofrível seleção do Panamá, mas isto vem sendo comentado há meses. Repetindo o jargão que está na moda, “esta seleção não me representa”.
Para completar, se a seleção não engrenar teremos um múltiplo prejuízo, pois os clubes estarão desfalcados dos seus melhores jogadores durante algumas rodadas do certame nacional, criando uma situação curiosa onde ninguém ganha e todos – seleção, clubes, torcida e o espetáculo – perdem.
Talvez seja esperar demais que a seleção brasileira mude a sua cara mesmo com a adoção de jogadores novos que podem fazer a equipe jogar um futebol mais leve. O ideal seria trocar de técnico e de conceito, o que fatalmente acontecerá no caso de um mau desempenho na Copa América e na competição olímpica.
O futebol brasileiro está precisando de uma reciclagem geral, começando pelos dirigentes, passando pelos técnicos e desembocando nos jogadores. Quanto mais profissional se torna o futebol no exterior, mais amadorístico ele vai ficando no Brasil.
Os dirigentes administram mal e não concedem aos técnicos um tempo razoável para que seja implantada uma filosofia de jogo, os técnicos não conseguem impor um sistema que se adapte os jogadores que eles têm em mãos e os jogadores não treinam fundamentos, se limitando à preparação física e às peladas regulares. Isto será assunto para um próximo artigo.
Tenho muita desconfiança do que poderá acontecer na Copa América – e a Copa Libertadores já deu uma mostra de como está o futebol dos outros países sul-americanos comparado com o nosso.
Por outro lado, o Campeonato Brasileiro ainda não esquentou.
Depois da primeira rodada muito se falava do Palmeiras, que vinha com cara de imbatível com seu elenco forte e um técnico com boas ideias que tem o time na mão, mas no momento é a dupla gaúcha que vem sustentando as primeiras posições ao lado do Corinthians, que voltou a ser vencedor praticando um futebol pouco atraente.
Com um equilíbrio pra baixo (nenhum clube alcançou os 100% de rendimento, e ainda estamos nas rodadas iniciais), é muito cedo para que se faça qualquer prognóstico. Acredita-se, no entanto, que pouco a pouco os velhos papões começarão a se destacar no pelotão da frente, embora até agora alguns deles não passem de uma pálida decepção, caso do Cruzeiro, Santos e Botafogo.
Na Série B o Vasco vai liderando e mantendo uma invencibilidade de sete meses. O time vai seguindo a trancos e barrancos e todos sabem das dificuldades que terá pela frente, mas apesar de o campeonato ainda estar no início, o time de São Januário esbanja vibração e segue na primeira colocação mostrando condições de fazer uma campanha que poderá trazê-lo de volta à Série A.
Exatamente no outro lado da tabela, apenas um ponto ganho e um gol marcado nas cinco partidas disputadas, segue melancolicamente o Sampaio Correia. Ao contrário do Vasco, o tricolor é um poço de desânimo e os desacertos vão se acentuando a cada rodada, sem que o técnico, seja lá quem for, consiga melhorar o futebol praticado.
     

  
(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 03/06/2016)





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